| Defesa de dissertação pela rede da RNPVideoconferência estimula cooperação internacional
Pela primeira vez na UFRJ, a defesa de uma dissertação de mestrado contou com uma participação virtual na banca examinadora. O experimento fez parte de um projeto de cooperação internacional entre o laboratório de Modelagem, Análise e Desenvolvimento de Redes e Sistemas de Computação (Land), que funciona na Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia (Coppe), da UFRJ, e o laboratório de redes de computadores da Universidade de Massachusetts, na cidade de Amherst, nos Estados Unidos. A comunicação foi feita via videoconferência através da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), no Brasil, e a Internet2, nos Estados Unidos. O coordenador do Land, Edmundo de Souza e Silva, e sua equipe de alunos vêm trabalhando no projeto em parceria com a universidade norte-americana há cerca de dois anos. Na entrevista a seguir, concedida à RNP, ele fala sobre a cooperação entre as duas universidades e a importância das redes acadêmicas neste processo. RNP: Como surgiu a parceria com a Universidade de Massachusetts?Edmundo Silva: Através de um edital lançado pelo CNPq que previa cooperação internacional na área de redes de computadores. A nossa equipe submeteu um projeto e ganhou a bolsa. Desde então, no Brasil, venho coordenando a equipe da UFRJ e, nos EUA, os alunos da Universidade de Massachusetts desenvolvem sua pesquisa sob a supervisão dos professores Donald Towsley e Jim Kurose. No que consiste esta parceria?A pesquisa, que é patrocinada pelo CNPq e pela National Science Foundation (órgão financiador de pesquisas norte-americano), envolve experimentos conjuntos na área de transmissão de voz e vídeo pela rede. Como parte dessa cooperação, em setembro do ano passado, surgiu a idéia de criar um curso de pós-graduação virtual nessa área para que os alunos brasileiros e norte-americanos trabalhassem em parceria. Para isso, produzimos uma ferramenta de videoconferência que, além de facilitar a interação dos alunos, serviria também como laboratório. A inovação deu certo e passamos a organizar também seminários através da rede e até defesa de dissertação. E como foi esta última experiência?O coordenador do laboratório da Universidade de Massachusetts, Donald Towsley, vinha acompanhando, via videoconferência, a pesquisa de dois alunos da UFRJ. Foi então que um deles solicitou a este professor que participasse da banca examinadora de sua dissertação, também através de videoconfência. Tive que pedir autorização à direção da universidade. Foi a primeira vez na UFRJ que ocorreu uma defesa de dissertação com a participação de um membro externo que não estaria presente fisicamente na banca. Na sua opinião, quais os benefícios para os alunos norte-americanos e brasileiros?Ambos ganham uma experiência muito rica com a possibilidade de interagir com outro ambiente e outros alunos. No caso brasileiro, é uma forma de criar contato e cooperar com um laboratório que é centro de referência no mundo na área de redes. Qual a importância das redes acadêmicas neste processo?Todo o experimento é viabilizado através das redes acadêmicas. Se não fosse a RNP, no Brasil, e a Internet2, nos EUA, eu não poderia realizar este projeto. É a rede acadêmica que fornece o suporte às instituições de ensino e pesquisa para desenvolverem suas pesquisas. Uma rede comercial também não poderia fornecer este serviço? Como o senhor vê a diferença entre esses dois provedores, afora a questão do pagamento pelo serviço?Há muitas diferenças. A rede acadêmica tem como objetivo interligar os centros de pesquisa e a comunidade acadêmica de forma a fornecer constantemente um serviço de vanguarda. Sua preocupação não é obter lucro, mas sim disponibilizar o que há de melhor, em termos de tecnologia, para a comunidade acadêmica, independente da rentabilidade do serviço. Além disso, o provedor acadêmico visa incentivar a conexão de pequenos pólos de pesquisa que não fazem parte da rede. A RNP vai até o local e fornece as condições de conexão à Internet. Isso envolve treinamento de pessoal, melhorias locais e uma série de benefícios para a comunidade, o que não é interesse de uma rede comercial. Por último, ela cria um ambiente de laboratório muito útil para quem trabalha na área de redes. Eu, por exemplo, costumo usar dados da RNP, como medição de tráfego, para a minha pesquisa. Enfim, ela é uma grande prestadora de serviços para a comunidade acadêmica e, desta forma, promove o surgimento de pesquisas inovadoras, o que não ocorre com o provedor comercial. Como o senhor avalia a importância da videoconferência para a educação no país?O Brasil precisa formar profissionais de qualidade. A ferramenta de videoconferência possibilita que grupos de profissionais nos centros de excelência atinjam um número maior de pessoas. Nos projetos de educação a distância para o interior do Brasil, onde há carência de professores, a videoconferência é fundamental para promover a interação entre os alunos e os professores. Alguns médicos que desenvolvem programas de educação da família também se interessaram pela nossa ferramenta. A necessidade de enviar equipe médica para educar as comunidades carentes termina com a possibilidade de disponibilizar pólos de informática em cada região capazes de interagir com as equipes das capitais. O senhor tem conhecimento de outras iniciativas interessantes que vêm aproveitando as redes acadêmicas?O Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) vem desenvolvendo uma parceria com a RNP para levar o curso de Aperfeiçoamento para Professores de Matemática do Ensino Médio às regiões carentes do país. Há alguns anos, a RNP vem transmitindo, ao vivo, as aulas para pólos de informática localizados em outros estados do Brasil e ampliando, assim, a capacidade de alcance do curso. Também há uma novidade que ainda está sendo descoberta e vem recebendo muito incentivo do Governo: a tv digital. Apesar de ainda não haver um projeto definido, a idéia é produzir uma televisão que possibilite uma maior interação com o telespectador para fins educacionais. Surge então a importância da Internet e das redes acadêmicas, uma vez que muitos dos estudantes não terão acesso a esta nova tecnologia a não ser nas escolas e nas universidades. [RNP, 18.11.2003] |