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Rede óptica da RNP, Redecomep e Clara são assuntos do segundo dia do WRNP

Novas iniciativas servirão de apoio à e-ciência


O segundo dia do 6º Workshop RNP, realizado em Fortaleza, Ceará, de 9 a 10 de maio, foi aberto com palestra do diretor de Operações da RNP, Alexandre Grojsgold, que apresentou detalhes do processo de renovação da rede nacional acadêmica. A nova rede, ainda sem nome, deve entrar em funcionamento no segundo semestre de 2005, com quatro pontos de presença (PoPs) operando a 10 Gbps (DF, MG, RJ e SP) e seis operando a 2,5 Gbps (PR, SC, RS, BA, PE e CE). Os demais 17 PoPs operarão na faixa de 4 a 34 Mbps.

Palestra de Alexandre Grojsgold

Será usada tecnologia óptica nos enlaces que funcionarão na faixa de gigabits por segundo, o que significa um novo paradigma para as redes brasileiras. A licitação para contratação dos enlaces gigabits ocorre este mês. A instalação está prevista para agosto ou setembro. Os novos enlaces dos 10 PoPs a megabits por segundo já foram licitados e devem ser instalados em breve.

Paralelamente à construção da nova rede da RNP, está sendo conduzida a iniciativa Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa (Redecomep). Este foi o tema da palestra de José Luiz Ribeiro Filho, coordenador nacional da iniciativa. O Redecomep constitui-se na implantação de redes metropolitanas multigigabits, baseadas em tecnologia óptica. Serão 27 redes integrando instituições de ensino e pesquisa em nível regional, com uso de fibras e equipamentos ópticos próprios. Prevê-se que essas redes estejam operacionais e conectadas ao backbone nacional da RNP até 2006. José Luiz Ribeiro voltou a falar sobre Redecomep na quarta-feira, dia 11, em reunião dirigida a parceiros da iniciativa e interessados.

Palestra de José Luiz Ribeiro

Além de agir em níveis metropolitano e nacional, a RNP está olhando também para a conectividade internacional. Ériko Porto, também da RNP, falou sobre a Cooperação Latino-Americana de Redes de Avançadas (Clara), que está montando um backbone continental, integrando as redes nacionais acadêmicas da América Latina. A Rede Clara começou a funcionar em 2004 e já conecta os seguintes países: México, Venezuela, Peru, Chile, Brasil e Argentina. A Clara também possui uma conexão de 622 Mbps para a rede avançada européia, Géant. O link entre RNP e Clara é de 155 Mbps, podendo ser expandido a 1 Gbps. Ériko, que é coordenador do núcleo de engenharia da Clara, falou também sobre o projeto de conexão direta da rede latino-amerina à rede avançada dos Estados Unidos, Internet2, através dos pontos de presença de Tijuana, no México, e de São Paulo, no Brasil.

Ainda na manhã do dia 10, o diretor de Inovação da RNP, Michael Stanton, fez uma palestra sobre a Iniciativa Óptica Nacional, um conjunto de propostas voltadas a estudar, conhecer e implementar redes ópticas no país, como as experimentais redes Giga e Kiatera. A primeira é financiada pela Finep e administrada pela RNP e pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD); a segunda é financiada pela Fapesp, dentro do programa Tecnologia da Informação para o Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia).

A tecnologia óptica é um novo paradigma para as redes de comunicação. Michael disse que a estratégia futura da comunidade de redes deve ser adquirir e operar seus próprios equipamentos ópticos, o que ocorrerá, por exemplo, com as redes metropolitanas do Redecomep. O diretor de Inovação da RNP acrescentou ainda que o Projeto Giga tem sido uma ótima oportunidade para a RNP adquirir know-how em tecnologia óptica, além de prestar um serviço a instituições de pesquisa que necessitam de uma plataforma de teste fechada. O Giga, que hoje alcança apenas cidades entre Rio de Janeiro e São Paulo, pode ser expandido para o nordeste, caso o acordo com a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) seja fechado.

O impacto das redes avançadas nas ciências

Desde a década de 1960 os cientistas usam as redes de computadores como suporte à pesquisa. As redes foram e são importantes para facilitar a comunicação, para agilizar a troca de dados e para o compartilhamento de recursos. Mas as necessidades de cientistas das áreas de genômica, biotecnologia, astronomia, meteorologia, física e muitas outras não podem mais ser supridas pelos modelos de redes de 20 ou 40 anos atrás. Hoje os cientistas precisam de redes com capacidade de transferir terabytes de informação rapidamente (cada terabyte equivale a 1.000 gigabytes, cerca de 1.300 CDs) e aplicações que permitam edição de imagens à distância, operações remotas, integração com a robótica, videoconferência com qualidade garantida etc. Um primeiro passo para isso foi dado na segunda metadade da década de 1990, com a separação entre as Internet comercial e acadêmica e a construção das primeiras redes de alto desempenho. O segundo passo está sendo dado nos últimos anos, com a construção das redes ópticas. O Brasil é o primeiro país da América Latina a investir nesta tecnologia, seguindo modelos de sucesso testados em países como Canadá, Estados Unidos e Holanda.

Palestra de Paulo Bisch

O Workshop RNP convidou quatro pesquisadores para o painel Requisitos de redes avançadas para as e-Sciences: Pierre Kaufmann, da Universidade Mackenzie, falou sobre Rádio-Astronomia; Paulo Mascarenhas Bisch, da UFRJ, falou sobre Biofísica; Bernard Marie Marechal, também da UFRJ, sobre Física; e Vanderley Canhos, do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), sobre Biodiversidade. Todos mostraram que, sem as redes, uma parte da pesquisa científica não seria possível, ou, ao menos, a sociedade não teria resultados tão rápidos. É inegável que nos últimos 50 anos a ciência e a tecnologia têm avançado a velocidades nunca imaginadas pelo homem. Sem dúvida, isto se deve, em grande parte, aos recursos computacionais e de redes.

O físico brasileiro Pierre Kaufmann, representante do Brasil no acordo Nasa-Agência Espacial Brasileira e coordenador do Centro de Rádio-Astronomia e Astrofísica Mackenzie, falou da necessidade que a astrofísica tem de redes de grande capacidade. O projeto Very Long Baseline Interferometry (VLBI) precisa de, no mínimo, 1 Gbps, disse o professor. No VLBI, telescópios localizados em diferentes partes do mundo registram observações celestes separadamente e enviam os dados para um único local, onde os sinais, então, são combinados. São geradas milhares de imagens de altíssima definição, que precisam ser enviadas pela rede aos cientistas, exigindo grande largura de banda. O Brasil participa do VLBI com o Rádio Observatório Espacial do Nordeste (Roen), localizado na cidade de Eusébio, no Ceará, um local privilegiado para a rádio-astronomia. Segundo Kaufmann, o Roen é considerado para a geodésia espacial o equivalente a Greenwich para a geodésia tradicional. O físico afirmou que “a conexão à rede de banda larga trará extraordinário impacto para as pesquisas e serviços realizados no país e no exterior”.

Palestra de Bernard Maréchal

O pesquisador Paulo Bisch, professor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ, falou sobre o progresso dos estudos na área da genética. Ele destacou a importância dos recursos computacionais e de redes para o desenvolvimento da pesquisa genômica. O físico francês Bernard Marie Maréchal é ainda mais incisivo. Ao concluir sua palestra, ele disse que a própria física de altas energias “não existe sem as redes acadêmicas avançadas”. Maréchal é professor do Instituto de Física da UFRJ e já participou de diversos projetos do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), onde trabalhou nas décadas de 1960 e 1970.

O último palestrante a debater o tema do impacto das redes avançadas nas ciências foi o pesquisador Vanderley Canhos, do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria). Ele demonstrou a importância das redes para a catalogação de dados estruturados sobre biodiversidade e acesso aos mesmos. Vanderley citou alguns exemplos de uso da rede dentro do Cria, como o Instituto Virtual da Biodiversidade (Biota) e alguns dos sistemas de informação associados a ele: o Sinbiota e a rede speciesLink. O Sinbiota tem o objetivo de integrar informações geradas pelos pesquisadores vinculados ao Programa Biota e relacioná-las a uma base cartográfica digital de qualidade. O speciesLink é uma rede de informação que permite a integração dinâmica, síntese e visualização de dados primários de coleções biológicas.

O diretor geral da RNP, Nelson Simões, ficou pessoalmente satisfeito com o resultado do workshop e com a participação dos pesquisadores, usuários da rede. Alguns não tinham noção da abrangência do trabalho da RNP e ficaram positivamente impressionados com as possibilidades que a rede oferece a todas as áreas do conhecimento. Outros, que atuam em projetos mais diretamente relacionados às tecnicidades da rede (como vídeo digital e grades), disseram ser essencial o suporte da RNP a seus projetos, não só como infra-estrutura de serviços, mas também como parceira. Todos reconhecem que a possibilidade de integração nacional e internacional é muito importante.

[RNP, 12.05.2005]

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Veja também:

6º Workshop RNP

Site do workshop


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