| Negócios a 155 megabitsInternet2 chega ao Brasil envolvendo grandes empresas, investimentos e prometendo viabilizar uma série de novos negócios Internet Business 01.07.1998 Se tudo sair como manda o figurino, e os recursos forem liberados na hora certa, daqui a, no máximo, quatro anos, a Internet2 brasileira será uma realidade. Só na fase inicial do projeto, que envolve a montagem das redes metropolitanas de alta velocidade (REMAV) em 12 capitais do país, o investimento chegará a US$ 10 milhões por ano. Os seis primeiros projetos de redes, o embrião da Internet2 brasileira, começam a sair da gaveta a partir do próximo mês. Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza e Goiânia largam na frente ao mesmo tempo, montando estruturas de comunicação para o setor acadêmico baseadas em tecnologia ATM (Assynchronous Transfer Mode) de 155 Megabits por segundo. Um salto bem significativo, quando boa parte das empresas transmite dados a, no máximo, dois Megabits por segundo. A previsão é de que, até o final do ano, outros seis projetos entrem nos trilhos. Só nesta primeira etapa, estima-se um investimento de US$ 20 milhões nos próximos dois anos. "A idéia é ter em cada estado uma rede de alta velocidade, capaz de suportar aplicações de Internet2, como teleconferências, telemedicina e ensino à distância, comenta José Luiz Ribeiro, coordenador da Rede Nacional de Pesquisas (RNP). As redes montadas terão switches ATM -modelos 8285, 8260 e 8265 - de até 622 Megabits por segundo servidores, com placas ATM e hubs fornecidos pela'IBM, através da lei de incentivos fiscais 8248. O Ministério da Ciência e Tecnologia, de acordo com Ribeiro, já liberou US$ 3 milhões para a implantação dos seis primeiros projetos de redes metropolitanas. Outros US$ 3 milhões estão previstos para o segundo semestre. "A Intemet2 tem como objetivo, no país, a montagem das redes de alta velocidade e, depois, o upgrade do backbone da RNP para ATM de 155 Megabits", observa Marco Antônio Casanova, gerente de Soluções para Educação da IBM Brasil. Pelos cálculos dele, nestes dois projetos o volume de investimentos ficará entre US$ 25 milhões e US$ 30 milhões. Esclerose precoce "A Internet convencional, hoje, é uma rede esclerosada. Ela não dá mais conta do volume de tráfego, pois o protocolo TCP/IP não garante a qualidade dos serviços", ressalta Casanova. O movimento em favor da Internet2 cria boas perspectivas de negócios para os fornecedores de hardware, softwares e soluções informatas. Além da IBM, uma tradicional parceira da RNP, outros fabricantes começam a vislumbrar boas oportunidades de negócios a partir do futuro avanço da Internet2 no país. Como aconteceu nos Estados Unidos, aos poucos, nomes como Cisco, 3Com e Nec manifestam interesse. O mercado se prepara para os duelos das concorrências. Arapoan Fernandes, gerente de Produtos Internet2 e Educação da Cisco do Brasil, garante que a empresa vai apresentar proposta, por exemplo, para o projeto de upgrade do backbone da RNP. O gerente lembra que, nos Estados Unidos, a Cisco é fornecedora do hardware, baseado em ATM, que equipa o backbone da Abilene, uma rede de comunicação recém-projetada que interliga 12 universidades. A credencial é forte, pois essa mesma tecnologia vai sustentar o futuro backbone da RNP por aqui. Projeto tem valor estratégico Sem ainda uma projeção clara sobre o volume de negócios que a Internet2 movimentará no país nos próximos anos, os fabricantes entram no jogo para valer. A 3Com ganhou a concorrência para fornecer os equipamentos para fazer o upgrade tecnológico da Rede Rio, um projeto que vai conectar cerca de 60 instituições de ensino e pesquisa da cidade do Rio de Janeiro. Financiado pela Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), o projeto, também baseado em ATM de 155 Megabits, está orçado em US$ 6 milhões. Também é considerado por todos mais um passo para a montagem da Internet2 no país. "Os testes começam a partir do próximo mês no laboratório de alta velocidade da Coppe/UFRJ. Os equipamentos já foram entregues", conta Marcos Teixeira Dias, gerente dos Distritos Rio de Janeiro/Nordeste da 3Com do Brasil. O montante de recursos será dividido entre o fornecedor e a Faperj. "Para cada dólar investido pela Faperj, a 3Com coloca um dólar, repassado na forma de equipamentos. Este vai ser o primeiro backbone ATM para Internet2 montado na América Latina. O investimento não é alto, mas o projeto tem um valor estratégico para os nossos negócios", acrescenta Teixeira. A Rede Rio, numa primeira etapa, vai trafegar dados a 155 Megabits por segundo entre seis pontos: Pontifícia Universidade Católica (Puc/Rio), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fundação Oswaldo Cruz, Telerj (a operadora responsável pela trilha de fibra ótica usada pelo projeto), o Conselho Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). O coração da estrutura terá nove switches CoreBuilder 7000, seis Path Builder 9.600 (que serão usados para integrar voz e imagem no futuro backbone da Internet.2) e três Corebuilder 2.500, que garantem a velocidade no roteamento dos dados. Bons negócios na virada do século O nível de investimento na Rede Rio tende a evoluir à medida que novas instituições se integrem ao projeto. Anderson Almeida André, gerente de Inteligência de Negócios da 3Com do Brasil, estima que, para conectar mais 30 unidades, seriam necessários mais US$ 10 milhões até o final do ano. O movimento em todo o país para a montagem de redes de alta velocidade e de soluções, como a Rede Rio, será significativo. De acordo com projeções do gerente da 3Com, o volume de negócios gerados no país até a virada do século deve atingir US$ 10 milhões, entre o fornecimento de produtos, softwares e serviços para a Internet2. Pouco? Sim, mas com um potencial de crescimento muito grande para depois do ano 2000, como acreditam todos os entrevistados. "O uso de novas tecnologias, como ATM de 155 Megabits por segundos, abre boas oportunidades de negócios no Brasil", avalia Wanderley Rigatieri, vice-presidente para a América Latina da Cabletron. Ele, porém, só acredita que teremos uma Internet2 muito rápida se, além de melhorar a infra-estrutura dos backbones, tivermos tecnologias de acesso mais velozes nas pontas. Uma vez tudo resolvido, Rigatieri acredita que haverá um movimento grande de migração da Internet tradicional para a Internet2. "Será como hoje, na telefonia, ter uma banda A e outra banda B. Quem quiser ter mais performance nas aplicações vai para a banda B, que neste caso, seria a Internet2", compara ele. Um pouco de história A corrida por redes de alta velocidade começou nos Estados Unidos, há quase dois anos. Um total de 34 universidades norte-americanas se reuniram para formar o que se batizou de Internet2. Atualmente, a rede já conta com a presença de 100 universidades. Uma iniciativa similar aconteceu também na Europa, com projeto TEN-34. A solução mais recente é a Abilene, que integra 12 instituições de ensino. Em comum, todos esses projetos carregam uma característica: se apoiar na tecnologia ATM em seus backbones. O vBNS (very High Performance Backbone Network System), por exemplo, da lnternet2 dos Estados Unidos, tem poder para trafegar dados a uma velocidade máxima de 622 Megabits por segundo. Por enquanto, só utilizam ATM a 155 Megabits. A solução de ATM fornecida pela 3Com foi projetada para transmitir dados a até 2,4 Gigabits por segundo. Meio Campo Na Rede Mais uma vez empurrado por uma centena de instituições de ensino e de pesquisa, o país prepara, em silêncio, o terreno para trafegar dados com mais rapidez. "Toda estrutura de Internet2 estará consolidada no Brasil entre 2001 e 2002", garante José Luiz Ribeiro. Peça-chave no projeto Internet2 "made in Brasil", o coordenador da Rede Nacional de Pesquisa conta como anda a montagem da nossa rede de alta velocidade, que vai trafegar dados a 155 Megabits por segundo, e de sua tendência de migrar para o setor corporativo. Internet Business: Como está o processo de implantação da Internet2 no país? José Luiz Ribeiro: Tudo vai acontecer em etapas que têm um certo grau de paralelismo entre si. A primeira delas é a montagem nos campus das universidades de redes de alta velocidade. O Ministério da Ciência e Tecnologia liberou US$ 25 milhões para estes projetos. A Universidade do Acre, por exemplo, está comprando equipamentos para ter uma estrutura de ATM a 155 Megabits, por segundo. A segunda fase é a de instalações das redes metropolitanas de alta velocidade, cujas seis primeiras soluções começam a ser instaladas a partir do próximo mês. Onde entra o upgrade da infra-estrutura da RNP para ATM de 155 Megabits? Primeiro, é preciso cuidar do acesso. Não adianta migrar o núcleo sem criar facilidades nas pontas. Depois, virá a fase de interconexão das diversas áreas metropolitanas entre si, o que vai exigir uma infra-estrutura de fibras óticas. A Telebrás tem planos de colocar esta estrutura disponível até o final do próximo ano. Aí será a hora de fazer o upgrade da rede da RNP. A expectativa é de que em um ano e meio ou dois seja possível fazer esta conexão do Brasil inteiro com o resto do mundo e, em particular, com os Estados Unidos. Para isso, é preciso superar o problema de comunicação de dados. O país hoje tem apenas um cabo de fibras óticas, o Americas 1, que sai de Fortaleza para os Estados Unidos. Ele já está saturado. O Americas 2 terá mais capacidade. Então, quer dizer que, antes desta etapa, o pais estará desconectado da Internet2. Neste meio tempo, o pais terá uma conexão de alta velocidade com os Estados Unidos, via satélite, a 45 Megabits por segundo. A idéia é, numa fase experimental, começar com 10 Megabits por segundo e ir aumentando de forma gradual. Tudo depende da liberação de recursos e de um levantamento para saber quais as empresas que podem oferecer este tipo de serviço. A expectativa é de que os recursos sejam liberados a partir do segundo semestre deste ano. O valor desta conexão ficará entre US$ 5 milhões e US$ 6 milhões por ano. Que fatores, hoje, impedem um avanço mais rápido da Internet2 no Brasil? Sem dúvida, os principais problemas são a falta de infra-estrutura de fibras óticas e de recursos financeiros. Existe uma grande dificuldade de capilarização do acesso nos estados do interior. Não é possível imaginar que num curto espaço de tempo, entre cinco e dez anos, o país terá fibra ótica na Amazônia. A solução, neste caso, é investir na evolução das tecnologias de comunicação sem fio, como o satélite ou rádio, para integrar esses estados à rede brasileira de alta velocidade. No quesito recursos, é fundamental a parceria entre o setor acadêmico e o de telecomunicações. A privatização vai ajudar de alguma forma? Temos es esperança que sim. Os investimentos previstos e o relaxamento das regras, com a privatização, devem com toda a certeza facilitar a criação e a implantação da infra-estrutura necessária na velocidade que o pais requer. Uma vez implantada e amadurecida em todo o mundo, quanto tempo a Internet2 vai levar para ser usada pelo setor corporativo? A Internet convencional levou quase 25 anos para se tornar comercial. No caso da Internet2, este ciclo não deve passar de quatro ou cinco anos, na medida em que as próprias empresas estão participando do projeto desde o início. É possível que ao longo deste ano já se tenham produtos derivados das novas tecnologias desenvolvidas pela Internet2. O ciclo de transformar uma tecnologia em padrão tem sido cada vez mais curto. O projeto de Internet2 visa, essencialmente, a desenvolver aplicações interativas e de multimídia, como teleconferência, telemedicina e ensino à distância. A estrutura de protocolos da Internet convencional não permite fazer coisas mais complexas. A Internet2, agora, vai desenvolver um conjunto de protocolos e aplicações rápidas que garantam a reserva de banda, a comunicação dos dados em sincronismo e a qualidade das conexões, por exemplo. Tudo isto, depois, será transferido para o setor comercial, como aconteceu na Internet que usamos hoje em dia. Sites relacionados: 3Com - http://www.3com.com/
fonte: http://www.canalweb.com.br |