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Internet em construção


Folha de S. Paulo

26.12.1999


A Internet ganhou força no Brasil. O país já tem metade do parque instalado de computadores da América Latina e está entre os 15 maiores do mundo, com um número estimado de 4 milhões de máquinas.

Em número de usuários da rede, o Brasil estaria num sexto lugar global (7,6 milhões de internautas). Mas segundo pesquisa conduzida pelo Datafolha, 48% dos internautas usam computadores de terceiros. Somente cerca de 10% sabem o que é preciso fazer para se conectar à rede.

Esses números produzem um retrato paradoxal da emergente sociedade da informação brasileira. De um lado, a pobreza do país se reflete na sua demografia digital (os "com-micro" são uma minoria em um universo de 160 milhões de pessoas). De outro, o mercado digital brasileiro já se coloca como um dos mais promissores, mesmo para investidores estrangeiros. A pesquisa do Datafolha revela que 17% dos brasileiros pretendem se ligar à rede nos próximos seis meses (ou seja, são 18,926 milhões de usuários potenciais).

Uma verdadeira euforia tomou conta do mercado brasileiro de Internet. Como ainda não há ações de empresas que operem exclusivamente na Internet, aumentou na Bolsa a procura por papéis de empresas que atuam fortemente na rede, como alguns bancos e redes varejistas.

A competição é cada vez mais acirrada, o que inclui uma explosão da publicidade "off line" (ou seja, em revistas, jornais, televisão e outros meios convencionais). Trata-se ainda, na verdade, de uma disputa por um enorme mercado potencial. Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que, no Brasil, toda cautela é necessária quando se trata de avaliar qualquer onda de modernização.

Nesse que é conhecido como o eterno país do futuro, a universalização do acesso aos confortos da modernidade demorou sempre muito para ocorrer, do saneamento à telefonia, passando pela alfabetização. A rigor, em nenhum campo houve até agora universalização de direitos e benefícios, e o progresso econômico e tecnológico continua a ocorrer sobre uma base estreita e concentrada.

Para que isso não se repita com a Internet, será preciso, além da competição, ações coordenadas de política industrial, científica e educacional.

Aliás, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, por trás do glamour que cerca os negócios digitais, os setores responsáveis, no governo ou na iniciativa privada, preocupam-se com as formas de exclusão social que são geradas por novas tecnologias. Assim como nos EUA, a Internet no Brasil começou como iniciativa do poder público (por meio da Rede Nacional de Pesquisa). E ainda há muito a fazer para que se avance rumo à universalização do acesso às novas tecnologias, o que requer a formulação de políticas científicas e tecnológicas e um envolvimento mais amplo e profundo das empresas privadas na reestruturação do sistema educacional e do mercado de trabalho. O governo federal já se ocupa dessa área. Lançou há duas semanas um programa voltado para a sociedade da informação, patrocinado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, que passou praticamente despercebido, apesar da importância do tema. Este talvez seja o desafio maior da Internet no Brasil: além do entusiasmo e do potencial desse mercado, o assunto precisa ser mais amplamente debatido, social e politicamente.

Somente assim surgirá, no lugar do jeitinho e da exclusão, uma consciência mais ampla de que é nesse terreno que se jogam as chances de participação do país no desenvolvimento econômico do século 21.

fonte: http://www.uol.com.br/fsp/

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