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Missão: Internet2

Brasil se organiza para entrar, ainda este ano, na rede americana de altíssima velocidade


Internet.br

Julio Preuss

01.09.2000


Se você acha que os 2Mbps de velocidade máxima teórica dos modems a cabo são o máximo, que tal lhe parece uma conexão ATM de 155Mbps? Para se Ter uma idéia, a essa velocidade é possível transmitir a quantidade de textos equivalente aos 29 livros da Enciclopédia Britânica via Internet, em apenas oito segundos. Ou esperar 0,3 segundo pela transmissão de uma imagem de 50 milhões de bits, de altíssima resolução, nítida e rica em detalhes. Pelo menos no futuro próximo, você não terá nada parecido com isso em sua casa, mas a tecnologia já está sendo aplicada em parte pela chamada RNP2, versão brasileira da Internet 2.

"A Internet 2 é um projeto norte-americano, administrado por um conselho universitário dos EUA (Ucaid - University Corporation for Advanced Internet Development). No Brasil temos um projeto semelhante, a RNP2, que até o fim do ano estará interligado à Internet2", explica Eduardo Viana, da coordenação de Informação da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), instituição responsável pela conexão da Internet2 ao país.

O primeiro passo para a implantação da RNP2 se deu ainda em 1997, com a criação das Redes Metropolitanas de Alta Velocidade, ou ReMAVs, e dos 14 consórcios locais responsáveis por sua administração. Atualmente existem ReMAVs em Fortaleza, Salvador, Recife, Natal, Paraíba, Goiânia, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Belo Horizonte, Paraná, Porto Alegre e Florianópolis.

Com as ReMAVs em operação, a próxima grande etapa é a sua interligação por meio de links de alta velocidade baseados na tecnologia ATM (Asynchronous Transfer Mode), que atingirão as tais taxas de até 155Mbps. A conclusão dessa etapa, originalmente prevista para o último mês de julho, depende da liberação de recursos do Governo Federal, mas deve acontecer até o fim do ano.

Velocidade

Em um primeiro momento, os links de 155Mbps serão usados apenas nos trechos entre São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal. No resto do backbone, no qual o fluxo de dados é menor, a RNP2 funcionará a 34Mbps, também em ATM, ou a 2Mbps, em Frame Relay.

Em resumo, nossa nova rede será de 15 a 1.200 vezes mais lenta que os 2,4Gbps da Internet2 americana. Segundo o coordenador de operações da RNP, Alexandre Grojsgold, ainda não existe oferta de serviço nessa velocidade entre as cidades brasileiras. "E mesmo que houvesse, o preço seria provavelmente proibitivo", diz.

Apesar da velocidade menor, nossa rede já garantiu sua interligação com a Internet2. Em março desse ano, a RNP assinou com a Ucaid o acordo que prevê a participação do Brasil no projeto americano. A ligação do Gigapop (como são chamados os Pontos de Presença da Internet2) de Miami deve acontecer até o fim do ano, por meio do cabo submarino Americas2, embora exista a possibilidade de uma conexão mais lenta, via satélite, enquanto o abo não estiver pronto.

As aplicações

Mais do que agilizar a comunicação entre as instituições de ensino e pesquisa conectadas, a velocidade da RNP2 vem para possibilitar uma série de novas aplicações. Segundo Nelson Ramos Ribeiro, coordenador-geral do PoP-Rio (o ponto de presença da RNP no Rio de Janeiro), os principais responsáveis pelo desenvolvimento dessas aplicações serão os consórcios regionais, que já começaram a fazer experiências em suas redes metropolitanas.

"Na primeira fase, o objetivo era estabelecer os canais e aprender a usar a tecnologia ATM, mas não tenho dúvida de que aplicações específicas começarão a surgir em breve", prevê. Para Ribeiro, a utilização de vídeo em tempo real deve ser um dos recursos mais explorados. "Em São Paulo já foi feita a transmissão ao vivo de uma cirurgia", exemplifica.

Na mesma linha, o professor Hartmut Glaser, da Fapesp, coordenador da Rede ANSP (Academic Network at São Paulo) e do projeto Advanced ANSP (uma versão mais rápida do backbone estadual paulista, que promete interligar 11 cidades do estado a 155Mbps), destaca as aplicações de videoconferência, armazenamento distribuído, multicast, telemedicina e teleeducação.

"A Fapesp financia os projetos Genoma e Biota, que são desenvolvidos em laboratórios espalhados em todo estado. Os resultados desses projetos são muito grandes e precisam ser armazenados centralmente. Hoje, esses dados são transportados por veículo, mas, com a ativação da rede Advanced ANSP, a transferência será feita diretamente pela nova rede", prevê Glaser.

É importante destacar que, além da velocidade superior, a rede baseada em ATM conta com características diferentes da Internet tradicional. Quando se precisa transmitir as imagens de uma cirurgia em tempo real - apenas para citar o mesmo exemplo usado acima -, é possível reservar a capacidade de transmissão necessária, de modo que os dados tenham um canal exclusivo para trafegar, sem disputar banda com outras aplicações menos importantes ou exigentes.

Caminho

Mas será que toda essa tecnologia seguirá o mesmo caminho da Internet 1, deixando de ser restrita apenas à comunidade acadêmica e se tornando acessível também para o usuário comum? Será que poderemos um dia assinar um provedor de Internet2 ? Para o professor Glaser, isso não acontecerá nessa primeira fase, que nos beneficiará apenas de modo indireto.

"Muitos aplicativos ainda precisam ser desenvolvidos pela 'academia', mas com certeza chegarão ao usuário comum na forma de uma operação assistida por uma junta médica internacional ou de palestras proferidas em uma universidade e acompanhadas por todas as demais", explica Glaser.

O professor da Fapesp lembra que "o objetivo final de qualquer desenvolvimento sempre é o de transferir os novos aplicativos desenvolvidos para todos os usuários, pesquisadores e acadêmicos e, uma vez estando esses novos serviços estáveis, disseminar os resultados para todos os usuários da Internet, tanto em nível nacional quanto internacional". Se a Internet2 se desenvolver tão rápido quanto sua precursora, até que não teremos que esperar tanto tempo.

fonte: http://www.internetbr.com.br/

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