| A RNP2 revisitadaAgência Estado Michael Stanton 21.03.2001 Há sete meses, na coluna de 21 de agosto de 2000, contamos aqui a história das novas redes de pesquisa que floresceram nos últimos anos, estendendo o uso de comunicação para além das aplicações "tradicionais" de correio eletrônico, WWW, "chat" e música MP3, que caracterizam a chamada "commodity Internet", a Internet como mercadoria, comprada pelo melhor preço num mercado competitivo. Nestas novas redes está sendo forjada e testada a tecnologia de redes de alta velocidade que posteriormente deve migrar para a comunidade geral, na forma de novas serviços, tipicamente de banda larga, e especialmente de vídeo. Exemplos destas redes novas brotam em muitos cantos do mundo, e estão em pleno desenvolvimento em países tradicionalmente adiantados como EUA, Canadá, Japão, Austrália e os países da União Européia, como também no México, China, Singapura e Brasil. Nos EUA, a iniciativa principal se chama Internet2 (www.internet2.edu) e este nome é usado genericamente para caracterizar todo o movimento. No Canadá, a rede se chama Canarie (www.canarie.ca). Na Europa existe a organização Dante (www.dante.net), que opera redes com os nomes Ten155 e Géant. A atividade equivalente no Brasil é chamada RNP2, e é conduzida pela RNP - Rede Nacional de Pesquisa (www.rnp.br), iniciativa do governo federal. Na coluna de 21 de agosto de 2000, contamos um pouco da história do projeto Internet2, e especialmente seu tamanho e rede operacional, Abilene. Hoje o projeto reúne mais de 180 instituições, e conta com o apoio institucional de diversas empresas de alta tecnologia, que o vêem como um campo de provas para seus futuros produtos. Os objetivos declarados do projeto são de criar uma nova infra-estrutura avançada de comunicação, possibilitando o desenvolvimento e uso de aplicações revolucionárias, e que os serviços e aplicações desenvolvidos sejam transferidos para o resto da comunidade Internet. Atividades neste projeto são organizadas em três áreas distintas: a engenharia, as aplicações e o "middleware". A engenharia lida com a tecnologia de transmissão de alta velocidade utilizada para possibilitar fornecer serviços de alto desempenho. Como a nova rede será uma rede de serviços integrados, misturando as aplicações tradicionais com novas que requerem "qualidade de serviço", geralmente conhecido pela sigla em inglês "QoS", será necessário implantar nela um novo tipo de serviço Internet, pois o tradicional é muito democrático, tratando todas as aplicações da mesma maneira, igualmente mal. Na nova rede, algumas aplicações terão que receber serviço privilegiado, senão elas não vão funcionar corretamente. Estas aplicações são de diversos tipos, mas muitas envolvem a transmissão em tempo real de voz e vídeo, e incluem videoconferências, realidade virtual e comunicação por voz. A área específica de aplicações na medicina inclui a nanotecnologia, a telemedicina e a educação a distância. Middleware consiste de ferramentas e dados que permitem que as aplicações consigam utilizar os recursos de redes. Estão incluídos itens tais como autenticação, diretórios, administração de QoS e comunicação segura, enfim, serviços comuns a várias aplicações que são realizados em software. Uma definição popular de middleware é que consiste da "interseção do que um engenheiro de redes não quer fazer, com aquilo que quem desenvolve as aplicações não quer fazer". A tônica principal do projeto Internet2 é que ele pretende oferecer recursos de comunicação para pesquisadores, ao invés de realizar pesquisa em redes de alta velocidade. Desta maneira, deve-se utilizar equipamentos e software de comunicação já disponíveis comercialmente, e aprender como utilizá-los para alcançar o objetivo de montar uma rede de serviços integrados. Na área de middleware, é preciso aprender como montar uma infra-estrutura de chaves públicas, que possibilite tornar seguras as comunicações, além de viabilizar assinaturas digitais. Um outro objetivo é a autenticação única, que dispensaria a pletora de identificações e senhas que temos que guardar para utilizar os diferentes sistemas que fazem parte do nosso cotidiano. Onde a imaginação ficará mais solta seria nas aplicações onde há muita liberdade para inovação. Participam ativamente nas áreas de engenharia e middleware do projeto Internet2 os setores de tecnologia de informação (TI) das universidades envolvidas. TI é o nome atualmente usado nos EUA para os antigos setores de processamento de dados ou serviços de informação das organizações, e se trata dos órgãos de serviço e não de pesquisa, embora eles possam realizar também trabalhos de pesquisa aplicada nestas áreas. No Brasil, o projeto RNP2 ambiciona trazer para o País esta veia de desenvolvimento de redes de alta velocidade e seus serviços. Já descrevemos na coluna supracitada os passos já seguidos, de nuclear redes metropolitanas em 14 cidades, e de criar um novo backbone, baseado em ATM. Recentemente, foi instalado novo acesso internacional a este backbone usando um enlace de 155 Mbps. No prosseguimento desta atividade, será realizado entre 21 e 22 de maio, na cidade de Florianópolis, o 3o Workshop RNP2 (www.rnp.br/wrnp2/2001) , onde serão apresentados e discutidos os resultados obtidos até o momento, e debatidos os rumos desta iniciativa nacional. Será uma oportunidade excelente também para comparar e conjugar esforços paralelos sendo realizados em outras áreas nacionais, por exemplo, as iniciativas do governo federal de criação de uma infra-estrutura de chave pública, já discutida na coluna de 20 de novembro de 2000, ou da implantação de suporte para QoS em redes corporativas. O importante neste processo é engajar a comunidade acadêmica de computação e comunicação neste esforço comunitário de desenvolver a infra-estrutura avançada de redes, tanto para reformar e enriquecer tecnicamente os ambientes universitários, como para criar conhecimentos que serão em breve repassados para a sociedade mais ampla, através da sua incorporação na próxima geração de "commodity Internet". Sílvio Meira e o FUST Para quem é novo neste sítio, Sílvio Meira foi o criador desta coluna "Sociedade Virtual", e escrevia neste espaço até o início do ano passado. Hoje é colunista do NO. (http://www.no.com.br/Notícias, Opinião e ponto - www.no.com.br ). Suas últimas duas colunas ali são um convite para refletir sobre o planejamento da extensão da Internet no País para partes da população ainda não atendidas, através de aplicação de recursos do FUST (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações). Pela importância das suas conseqüências sociais e técnicos, recomendo sua leitura a todos. As referências são:
Acesso Universal à Rede: faltaria mais política à ação? (09/03/2001)
Michael Stanton (michael@ic.uff.br), que é professor titular de redes do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense, escreve neste espaço todas as semanas sobre a interação entre as tecnologias de informação e comunicação e a sociedade. Os textos das colunas anteriores também estão disponíveis para consulta. fonte: http://www.estadao.com.br/tecnologia/coluna/stanton/2001/mar/21/69.htm |