| Projeto Oré: simples, mas com efeitoRets Revista do Terceiro Setor Marcelo Medeiros 10.05.2002 No final de 1999, o governo brasileiro lançou o programa Sociedade da Informação, que se propõe a integrar, estimular e coordenar ações para utilizar tecnologias de informação e comunicação no país. Uma de suas linhas de ação é chamada "Universalização de serviços e formação para a cidadania". É nela que se encaixa o projeto Oré (Organizar, Refletir, Evoluir), desenvolvido pelo Departamento de Informática e Ciência da Computação da PUC-Rio junto à Rede Nacional de Pesquisa (RNP) desde 2001. O projeto visa demonstrar como práticas sociais podem ser registradas, aprendidas, auxiliadas e difundidas por intermédio de tecnologias da informação, de forma a gerar conteúdos digitais em ambientes de colaboração via internet. Para tanto, a Associação Saúde da Criança Renascer, também do Rio de Janeiro, foi escolhida como parceira e representante do terceiro setor. A organização trabalha com crianças internadas no Hospital da Lagoa, na Zona Sul carioca, e com as que já receberam alta, doando remédios, comida e auxiliando as mães no tratamento pós-hospitalar. "A idéia é criar um sistema de trabalho colaborativo, um sistema que permita que a tecnologia de informação facilite cada vez mais o trabalho de organizações de voluntários e não-governamentais", explica Clorisval Pereira Júnior, membro do projeto e da RNP. "Quando você leva esse tipo de tecnologia de informação para organizações que trabalham sem ela, há uma tranformação de cultura de trabalho. No momento em que inserimos a novidade, novas práticas de trabalho são criadas. Enquanto algumas formas de trabalho são mantidas, outras são transformadas", completa. Para isso ser feito da melhor forma possível, a equipe é formada por 15 pessoas, entre professores e alunos não só de Informática, como também de Letras, Psicologia e Design. O programa O Serg (Semiotic Engineering Research Group Grupo de Pesquisa em Engenharia e Semiótica), núcleo do Departamento de Informática da PUC responsável pelo projeto, tem experiência em trabalhos desenvolvidos para empresas, mas pouco havia sido feito por organizações não governamentais. O Oré é visto como oportunidade para uma aproximação entre as partes. O programa desenvolve um groupware, ou seja, uma ferramenta que permite a diversas pessoas participarem de um mesmo trabalho. Dessa forma, comunidades de voluntários poderão trocar mensagens eletrônicas, participar de fóruns de discussão, formular agendas individuais e coletivas, gerar e arquivar documentos para uso comum e acompanhar atividades. É previsto também um mecanismo de autodocumentação que grave o uso e a prática desenvolvidos ao longo do tempo e os ofereça como "histórias" a serem contadas para garantir a evolução de práticas comunitárias. O programa, elaborado em linguagem CGI-Lua, desenvolvida na própria PUC, pode rodar em qualquer sistema operacional. Além disso, terá seu código aberto, para que outros especialistas possam agregar informações a ele, pois é pensado para ser utilizado em plataformas e computadores populares. "Nosso objetivo é ajudar organizações e trocar experiências, por isso o software é livre", diz uma das coordenadoras do Serg, Simone Barbosa. RenascerA implementação começou no início do ano. Em janeiro e fevereiro, houve troca de informações entre a equipe do projeto Oré e a da associação Renascer, para que percebessem as necessidades umas das outras. Em março, o projeto foi apresentado e agora ele está sendo implementado. "Vimos que o Oré batia com nossas necessidades e decidimos servir de cobaia", brinca Rui Marroig. O programa será útil para a comunicação entre as três unidades da Renascer, o treinamento de voluntários e disseminação de informação para interessados. Hoje, por volta de 200 pessoas realizam trabalho voluntário na organização, mas nem todas utilizam computador - muito menos internet. Portanto o uso do programa deve começar pelos já familiarizados com a tecnologia, que aos poucos passarão informações aos restantes. Outra utilidade do programa, segundo Marroig, será tirar o medo do computador de alguns integrantes da organização. "Como a ferramenta do 'Histórico', um manual será criado e, por conseguinte, haverá maior facilidade no aprendizado de novos e antigos voluntários. Isso vai atrair muitos para as máquinas". Outro benefício será a integração entre as diversas partes. As unidades poderão saber o que as outras estão fazendo ou fizeram e assim aumentar a sinergia entre as equipes e otimizar processos de cura. E as pessoas ligadas à organização, que muitas vezes têm dificuldade para acompanhar o trabalho feito, apesar do interesse, acompanharão as atividades à distância. "Percebemos que a comunicação entre as partes não estava sendo priorizada. É aí que entra o Oré. É uma ferramenta simples, mas de grande efeito", ressalta Barbosa. Apesar de estar voltado para os voluntários e os prestadores de serviço da Renascer, o programa pode, no futuro, servir também para que as 260 famílias atendidas se informem e dialoguem com a instituição. Já existe uma parceria com o Centro de Democratização da Informática (CDI) para que os envolvidos tenham aulas de computação, mas o maior problema é a falta de acesso à informática dessas pessoas em suas comunidades. "Ela não está prevista, mas com certeza é uma boa idéia", diz Morroig. Basta organizar, refletir e, daí, evoluir. fonte: http://rets.rits.org.br/ |