| Vou para a minha praiaAgência Estado 19.05.2002 Esta semana, 20 a 24 de maio, será realizada a vigésima reunião anual da comunidade nacional de pesquisa em redes de computadores, o Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores – SBRC, que este ano ocorrerá no balneário de Búzios, RJ (www.nce.ufrj.br/sbrc). Em qualquer área de atividade humana, reuniões que juntam os envolvidos para se (re-)conhecerem uns aos outros tendem a aumentar a coesão do grupo, além de dar aos novatos uma visão do todo que normalmente não conseguem no isolamento do seu laboratório ou sala de estudos. Na área de redes, isto também é verdadeiro, embora seja a sua própria razão de ser desenvolver e promover soluções para permitir vencer a "ditadura da geografia", hoje epitomadas pela Internet. Entretanto, e, talvez felizmente, os encontros "virtuais" ainda não eliminaram as atrações dos encontros "presenciais". O SBRC é promoção do Laboratório Nacional de Redes de Computadores – LARC e da Sociedade Brasileira de Computação – SBC, ambos criados em 1979. A SBC (www.sbc.org.br) é a entidade que agrega o setor acadêmico de computação em todas as suas áreas de concentração, incluindo redes e sistemas distribuídos. Ela representa esta comunidade e também o interesse público em computação. O LARC (www.di.ufpe.br/~larc) é uma laboratório virtual, no sentido que é uma associação das vinte e duas universidades e institutos de pesquisa, que desenvolvem atividades em redes. Complementando as atividades de ensino e pesquisa, a SBC e o LARC vêm contribuindo ao longo dos anos para que as redes se tornassem reais e úteis, primeiro para a comunidade acadêmica e depois para a sociedade mais ampla. A primeira iniciativa do LARC, já no meio dos anos 1980, foi um projeto de pesquisa e desenvolvimento no Rio de Janeiro, para criar uma rede de computadores entre a UFRJ, o LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica) e a PUC-Rio, usando X.25, uma tecnologia de rede usada pela Embratel para oferecer um serviço de dados. Este projeto foi batizado Rede-Rio, e o nome até hoje é utilizado para denominar a rede Internet para uso acadêmico mantida pela FAPERJ (www.rederio.br). A partir de 1987, o LARC se envolveu com os esforços que levaram à implantação no Brasil das redes BITNET e Internet, mencionada na coluna de 25 de abril, e em particular à criação e posterior evolução da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa – RNP (www.rnp.br), a principal rede no país que atende a comunidade acadêmica. Hoje a RNP atende direta e indiretamente a mais de 300 instituições, através do seu backbone nacional, com pontos de presença em todos os estados e no DF, mais comumente numa universidade federal na capital de cada estado. Outras instituições são servidas por meio de redes regionais, tais como a Rede-Rio ou, em São Paulo, a ANSP (www.ansp.br), que atendem as outras instituições em cada estado, ligando-as ao "ponto de presença" da RNP. A RNP é sustentada hoje pelos ministérios de Educação e de Ciência e Tecnologia, e operada sob contato de gestão com o MCT pela Associação RNP, organização social com sede no Rio de Janeiro. Fazem parte do conselho de administração da Associação RNP representantes do MEC e do MCT, bem como da SBC e do LARC, entre outros. Nos últimos anos, foram estreitados os laços entre a RNP e o LARC, em torno da iniciativa RNP2, versão nacional da Internet2 nos EUA (www.rnp.br/rnp2). A Internet2 (www.internet2.edu) é um consórcio de universidades, institutos de pesquisa e empresas, formado em 1996 para desenvolver redes avançadas e suas aplicações. A RNP2 tem esta missão aqui, e vem procurando desenvolvê-la desde 1997. Os principais sinais desta atividade foram as ReMAVs (Redes Metropolitanas de Alta Velocidade), criadas em 14 cidades, interligando consórcios locais através de redes montadas usando fibra apagada cedida (geralmente) por empresas de telecomunicações (www.rnp.br/remav/index.html), sendo a maioria destes consórcios liderada por pesquisadores ativos no LARC. As ReMAVs foram instaladas entre 1999 e 2000, em função do financiamento dos seus projetos pelo CNPq e do apoio fundamental das empresas proprietárias da fibra óptica usada. Elas possibilitam explorar atividades em redes em velocidades até 155 Mbps, dentro do raio de cobertura da rede metropolitana. Entretanto ainda não permitem interoperação entre instituições ligadas a ReMAVs diferentes, pois ainda não está disponível conexão interestadual em velocidade suficientemente alta para tanto. O backbone atual da RNP permite trafegar dados em velocidades até 30 Mbps hoje, embora este patamar continue crescendo continuamente. Desde 2000 iniciou-se uma nova aproximação entre o LARC e a RNP. Isto se manifesta através de atividades conjuntas, tais como os WRNP2 (Workshops RNP2), realizados em 2000 e 2001 junto com o SBRC. Os WRNP2 (www.rnp.br/wrnp2) são reuniões dedicadas à engenharia e aplicações de redes avançadas, e desde 2001 vêm sendo coordenados por pesquisadores do LARC. Este ano, o WRNP2 se reunirá em setembro, mas haverá uma sessão "RNP2" no SBRC desta semana com o mesmo espírito, onde serão discutidos e debatidos novas iniciativas nesta área. Estas incluem uma nova rodada de financiamento pelo CNPq de projetos de P&D em redes avançadas, julgada em dezembro, e a criação este ano de Grupos de Trabalho coordenados por pesquisadores, que desenvolverão estudos que devam levar à implantação de novos serviços para os usuários da RNP e das redes acadêmicas em geral. Talvez a mais ousada destas iniciativas seja a Iniciativa Óptica Nacional – ION, que vem sendo gestada desde o ano passado. Em resumo a ION propõe a utilização para promover P&D em redes avançadas de uma pequena parte da capacidade ainda não utilizada comercialmente das fibras ópticas instaladas no país por empresas de telecomunicações, entre outras. Idealmente, o benefício disto poderia atingir todo o país, mas os custos de pôr em uso a fibra óptica são significativos, e inicialmente a atenção deverá se restringir à região sudeste, onde há uma grande concentração de instituições potencialmente parceiras neste empreendimento, especificamente nas regiões metropolitanas de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. A proposta básica é interligar estas três regiões através de uma rede óptica onde a taxa de transmissão usada seria na faixa de gigabits por segundo. Esta rede deverá ser montada por um consórcio liderada pelo RNP e a Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações – CPqD de Campinas (www.cpqd.br), e incluindo tanto empresas das áreas de computação, redes e telecomunicações, como instituições de pesquisa da comunidade acadêmica, tanto em tecnologia óptica como de redes, de computação e de áreas de aplicação. Estas últimas são de grande importância, pois em última análise são os usuários que viabilizam os investimentos em redes de comunicação. Neste caso, as aplicações que poderão se beneficiar do uso de redes avançadas deveriam incluir as áreas de meteorologia e geociências, engenharia, biologia molecular, medicina e física de altas energias. Espera-se que seja possível criar ainda em 2002 as condições suficientes para montar a rede óptica para atender estes grupos de pesquisa. Portanto, o 20º SBRC esta semana trará a oportunidade para debater esta e outras oportunidades para avançar o estado da arte das redes em uso no país. É lá em Búzios que vou, para ficar com a minha turma na Praia da Ferradura. Michael Stanton (michael@ic.uff.br), que é professor titular de redes do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense, escreve neste espaço desde junho de 2000 sobre a interação entre as tecnologias de informação e comunicação e a sociedade. Os textos destas colunas estão disponíveis para consulta. fonte: http://www.estadao.com.br/tecnologia/coluna/stanton/2002/mai/19/63.htm |