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RNP na Mídia 
 

Por um (web)design universal


Todos na Internet

Thais Aguiar

03.09.2002


A preocupação com a acessibilidade digital é recente na Internet brasileira. São poucos os designers e webdesigners que despertaram para o assunto. No exterior, porém, já há iniciativas nesse sentido. Em outubro de 1997, o World Wide Consortium (W3C), organismo responsável por recomendações para a rede mundial, lançou o “Web Acessibility Initiative” (WAI), com objetivo de promover a acessibilidade. No Brasil, a mobilização ganha espaço, com iniciativas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e da Rede Nacional de Pesquisa (RNP).

Um dos designers sensíveis ao assunto é Clorisval Junior, da RNP. Ele conta nessa entrevista que em maio de 1999, o W3C publicou o primeiro documento com “Normas de acessibilidade do conteúdo da Web 1.0”, apresentada como um guia para que criadores de sites. "Mas muitos desenvolvedores de páginas desconhecem o documento ou não se interessam", explica.

No Brasil, o Comitê Brasileiro de Acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) monta atualmente um grupo de discussão para promover a revisão das normas de acesso para pessoas com deficiências, definição de critérios de acessibilidade e usabilidade aos softwares na rede.

Junior reprova os sites que pipocam na rede para uso exclusivo de deficientes. "Isso é exclusão social." Nessa entrevista, ele orienta os designers interessados em construir "pontes e rampas" que não excluam da rede os deficientes. "Vale dizer que muito conteúdo na web é acessível, mesmo sem que o desenvolvedor tenha se preocupado com isso. O problema maior está em sites que fazem muito uso de frames, javascript, rollovers, plug-ins, java, efeitos de animação, etc". Não, não é nenhum bicho de sete cabeças.

Por que demorou tanto para os profissionais da Internet entenderem que a web precisa de uma linguagem acessível para pessoas com deficiências?

Conscientização, conhecimento técnico, regulamentação e público alvo poderiam ser alguns fatores que tornam a questão da acessibilidade pouco discutida. Mas isso não é restrito a websites. De uma olhada em seu entorno e veja quantas rampas, pisos sinalizados, elevadores com display ou material impresso em Braille você encontra nos nossos edifícios e espaços urbanos.

Muitas vezes é necessário uma exigência legal para se cumprir uma recomendação de acessibilidade. Isso está acontecendo atualmente com a web nos EUA através da Section 508 do American Disabilities Act. Segundo essa norma, todos os websites, softwares, sistemas operacionais, produtos de telecomunicação, Dvds, videotapes, quiosques eletrônicos e por aí vai, para uso, contratação e aquisição das agências governamentais, devem estar em conformidade com determinados padrões publicados na norma. Isso quer dizer que quem não entrar em conformidade, poderá sofrer processo judicial. Como esse tipo de ferramenta funciona por lá, eles estão levando esse assunto a sério. Talvez seja por isso estamos começando a falar mais sobre isso por aqui.

Essa questão é fundamental para o governo eletrônico, para o programa sociedade da informação, para a universalização do acesso, para os serviços on-line ao cidadão, etc.

Em que se baseia a norma Section 508?

A norma Section 508 é na verdade baseada em um documento, o WCAG 1.0, Web Content Acessibility Guidelines, de 1999. Essa recomendação foi publicada pelo WAI/W3C, Web Acessibility Initiative do World Wide Web Consortium, um consórcio multiinstitucional, liderado pelo CERN, INRIA e MIT, cujo principal fundador é o Tim Berners Lee. O W3C é a principal organização promotora e padronizadora da Web, mundialmente. A própria especificação do HTML, XML, e outras linguagens, são desenvolvidas pelo W3C. O WCAG 1.0 é a principal referência sobre acessibilidade na Web. Tem traduções para várias línguas, inclusive o português. A versão 2.0 sairá em breve.

Se já existe desde 1999 um documento orientando essa questão de acessibilibidade, por que a Internet é ainda tão inacessível?

O fato é que muitos desenvolvedores de páginas web desconhecem esse documento. Alguns conhecem e não se interessam ou não se dão ao trabalho de seguir a recomendação.

Como torná-la conhecida?

Se o governo adota uma norma para seus produtos, quem quiser vender para o governo vai precisar entrar em conformidade. Mas independente de o governo decidir normatizar seus produtos, uma ação generalizada para exigir acessibilidade por lei em todo o tipo de site talvez seria um pouco complexa demais. Para isso a norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) pode ser muito importante. Ela pode servir como referência para outras organizações que desejam estar em conformidade com algum padrão de acessibilidade brasileiro.

É muito difícil e caro elaborar páginas que ofereçam acesso adequado para pessoas com deficiência? Deve-se criar sites exclusivos para elas, como já pode ser encontrado na web?

Pelo contrário, pode até ser mais barato. Não existe uma linguagem específica para acessibilidade. O HTML, quando usado segundo sua correta especificação, já é acessível. Problemas surgem, por exemplo, quando não é declarado o atributo de texto alternativo para uma imagem, quando um frame não possui um título declarado, quando a formatação em tabelas coloca conteúdos associados em células separadas, quando se usa java, javascript, plug-ins, que não são acessíveis.

Não se deve fazer sites exclusivos para deficientes. Isso é exclusão social. Estamos falando em inclusão social. Os deficientes querem usar e possuem o direito de usar o mesmo espaço que todo cidadão usa. Seja uma página web, seja um elevador, seja uma sala de aula.

Os problemas são as barreiras e impedimentos de acesso. Cegos, por exemplo, podem usar um leitor de tela que converte em som todo o tipo texto da página. Mas para isso, imagens devem possuir uma descrição textual. Já um surdo não terá acesso a áudio, e por isso precisa de uma legenda. Ou seja, é necessário fornecer alternativas equivalentes. Pessoas com deficiência motora, muitas vezes não possuem condição de usar o mouse, ou usar duas mãos no teclado. Essas pessoas podem ter dificuldade com menus dinâmicos que não dão acesso por teclado ou atalhos que exigem pressionar duas teclas ao mesmo tempo. Já pensou em pessoas com deficiência de visão cromática, ou mesmo usuários com monitores preto e branco? Determinados padrões de cor ou contraste não podem ser visualizados.

Quais as preocupações que o designer ou desenvolvedor deve ter na construção das páginas?

O WCAG 1.0 possui 14 recomendações básicas e dezenas de pontos de verificação. Resumindo muito o problema, é necessário sempre fornecer alternativas equivalentes de conteúdo textual e certificar que o conteúdo da sua página continuará disponível mesmo sem cor, sem plug-ins, sem javascript, sem folhas de estilo. O W3C usa o termo graceful degradation, traduzido para o português de Portugal por “transformação harmoniosa”. Ou seja, mesmo usando navegadores ou tecnologias assistivas com menos recursos de apresentação e interação, o conteúdo deve manter sua estrutura acessível.

Mas vale dizer que, além da acessibilidade, um designer deve se preocupar também com a usabilidade. Sem falar nos aspectos estéticos e semióticos.

É preciso curso de especialização para isso?

Para digerir sozinho as recomendações do W3C, é necessário conhecer bem o HTML e o CSS (folhas de estilo). E tempo para estudar. Com certeza um curso ajuda. Estamos desenvolvendo, aqui na Rede Nacional de Pesquisa, a RNP, um programa de treinamento sobre as recomendações e técnicas para desenvolver páginas acessíveis, seguindo o modelo do WAI/W3C.

Deve-se considerar que todo internauta é um potencial "designer" ou editor capaz de publicar seu conteúdo na rede. Já se consolida na rede uma verdadeira geração de bloggers, internautas que publicam diariamente conteúdo em diários online conhecidos como weblogs. Os programas utilizados para produzir weblogs obedecem normas mínimas de acessibilidade? Qual deve ser a conduta de um blogger preocupado com essa questão?

Blogs ou weblogs trabalham com templates. Os programas de weblog armazenam os textos a serem publicados em um banco de dados. O template do weblog é uma estrutura de construção de uma página HTML onde os textos do banco de dados entram como variáveis dentro da marcação HTML do template. Assim, a questão dos blogs, como de qualquer outro tipo de página construída a partir de uma ferramenta de gerência de conteúdo está na elaboração da marcação HTML dos templates. Se marcados de acordo com a recomendação, seu blog será acessível.

Um weblog interessante sobre acessibilidade é o http://www.joeclark.org/accessiblog/.

fonte: http://www.todosnainternet.org.br/

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