| O Brasil parte para a superinfoviaLimite de velocidade da nossa internet 2 será 40 mil vezes maior que conexão a cabo Revista Galileu Cristina de Luca 01.07.2002 Ela é desconhecida até mesmo pela comunidade que atende. É normal encontrar professores e alunos universitários que jamais ouviram falar da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) ponta-de-lança de tudo o que se fez em internet no país. Foi ela que ajudou a Embratel a montar o primeiro backbone comercial em meados dos anos 90. Agora, se prepara para pôr o Brasil na vanguarda das comunicações ópticas, com parceiros igualmente comprometidos com o desenvolvimento da internet por aqui. Entre eles a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A RNP é uma instituição privada sem fins lucrativos, financiada pelos ministério da Ciência e Tecnologia e da Educação, que atende a 239 universidades e alguns institutos de pesquisa. Sua espinha dorsal é complementada por 15 redes de pesquisa estaduais e 14 Redes Metropolitanas de Alta Velocidade. Juntas formam a RNP2, contrapartida nacional da Internet 2, equivalente a ela nos objetivos e aplicações, mas não em poder de fogo. Enquanto nosso maior canal trafega informações a 155 Mbps, a Internet 2 oferece velocidades de 2,5 Gbps, passando para 10 Gbps até o fim do ano. Atual meta da RNP através da Iniciativa Óptica Nacional. A tarefa está apenas no início. Começa pelo Projeto Giga, que pretende interligar por fibra óptica, a 10 Gbps, universidades de Petrópolis, Rio, São Paulo e Campinas. Pesquisadores planejam montar redes de fibras ópticas de altíssimo desempenho para internetEssa experiência inicial entre Rio e São Paulo pode ser facilmente replicada em outros Estados. Mas para sair do papel ainda depende de uma difícil equação: como financiá-la? Única e exclusivamente com recursos do governo federal, através dos orçamentos dos ministérios e dos fundos de fomento tecnológico? Pode não ser o caminho mais rápido, diante dos repetidos cortes no Orçamento. Por isso a RNP luta para ampliar o grau de adesão da sociedade ao projeto, embarcando empresas e governos, estaduais e municipais, interessados na formação de mão-de-obra, testes de equipamentos, desenvolvimento de aplicações e criação de novos mercados. Há mesmo quem defenda a redução dos custos através da participação das companhias telefônicas ou outras empresas detentoras dos 160 milhões de quilômetros de fibras já instaladas no país - equivalentes a 200 viagens de ida e volta à Lua. Acontece que só 5% delas estão acesas. Ou seja, iluminadas por lasers, trafegando voz ou dados. E é fácil entender o porquê. Cada cabo ótico é capaz de levar vários pares de fibra. E, com os modernos equipamentos mulpilexadores, cada fibra pode ser iluminada com até 32 lasers de 2,5 Gb, iguais aos que estão em uso comercial hoje. O maior custo de instalação não é o da fibra em si, mas o das obras de engenharia civil para cabear as cidades. A variação de custo para instalar 2, 10, 100 pares é mínimo. Por isso, a maioria instalou fibras de sobra. "Não quer dizer que planejaram mal", explica o professor Alexandre Grojsgold, Diretor de Operações da RNP desde 1997. "É o que chamamos de ociosidade prevista. Se é barato instalar, instala de sobra. O problema é que estas empresas vêem a fibra como recurso estratégico. Por isso, não aceitam a liberação de alguns pares para uso em pesquisa. Nem mesmo o aluguel a preços razoáveis. Um por cento do custo de instalação ao mês, por exemplo, hoje calculado em US$ 20 mil por quilômetro." A RNP e vocêO financiamento misto é o modelo desenhado pela Fapesp para o projeto Tidia (Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada), iniciativa semelhante do projeto Giga, mas restrito ao Estado de São Paulo. O Tidia foi inspirado na concepção e execução do Projeto Genoma, responsável pelo surgimento de várias empresas de ponta na área da biotecnologia e da inserção do país no cenário internacional. Já conta com o apoio do Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), estatal do sistema rodoviário paulista. E também do trio Alcatel/Telefone/Pegasus, entre outras empresas, segundo seu coordenador Hugo Fragnito. Vai interligar instituições de Campinas e São Paulo, no primeiro momento. E, logo a seguir, São Carlos. Como tudo isso chega ao usuário comercial? Através dos desdobramentos práticos para fabricantes de equipamentos e fornecedores de serviços. Falta conteúdo interessante na internet. As aplicações multimídia continuam na promessa. A transmissão de vídeo multicast - para mais de um usuário simultaneamente, como na TV aberta - ainda precisa vencer barreiras tecnológicas, não só no aspecto do aumento da velocidade, mas também na maneira como a rede é gerenciada. Um dos objetivos dos projetos Giga e Tidia é dominar a construção de aplicações IP em cima do suporte óptico, excluindo uma pilha de protocolos que hoje encarecem a iluminação das fibras para transmissão de informação. E, assim, tornar corriqueiras aplicações interativas de TV digital, telemedicina, videoconferências colaborativas para ensino à distância e aplicações IPV6 com celulares 3G. "Há dez anos nosso desafio era implantar a internet. Agora ela está aí. Há um consenso de que a plataforma é óptica e roda IP. O desafio atual é resolver o que fazer com ela", explica Nelson Simões, diretor geral da RNP. "Mais do que isso: descobrir o custo e o preço justo para esses serviços"', acrescenta Hugo Fragnito. "Hoje grande parte do problema é a falta de transparência dos preços." Velocidade máximaA maioria dos acessos comerciais à internet no Brasil continua sendo por ligações telefônicas com modens de 56 Kbps. Para entender a diferença entre as rodovias que usamos hoje e a superinfovia, basta fazer uma conta simples. Antes é preciso saber que a velocidade de transferência de dados na rede é medida em bits por segundo. Um Kbps equivale a mil bits transmitidos a cada segundo. Os modens de 56 Kbps devem ser capazes de transmitir 56 mil bits por segundo. As conexões de banda larga de 256 Kbps, 256 mil bits a cada segundo. As de 2 Mbps, 2 milhões de bits. Já é muito? Imagine 10 Gigabits por segundo! São 10 bilhões de bits! Hoje, uma transmissão de vídeo em tempo real no padrão MPEG 2 precisa de no mínimo 2 Mbps para trafegar em modo unicast - de computador para computador. Aumentar a qualidade e a quantidade de pontos de recebimento simultâneos requer mais banda, mais velocidade. Quando os celulares 3G rodarem IP e as redes terrestres atingirem as mesmas velocidades das redes sem fio, o vídeo capturado no celular poderá ser transmitido ao mesmo tempo para diversos computadores. fonte: http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT329537-1719,00.html |