| Mentes brilhantesA Matemática recebe reforço do Impa para estimular o bom desempenho de alunos do ensino médio Jornal do MEC Elaina Daher 01.03.2002 A Matemática venceu a guerra. Esta é a primeira frase do filme Uma Mente Brilhante, que conta a história do matemático John Nash, prêmio Nobel de Economia em 1994. A frase é dita por um professor na Universidade de Princeton (EUA), onde Nash fez seu doutorado na segunda metade nos anos 40. O professor se refere à II Guerra Mundial e instiga, nos alunos, o desafio das grandes conquistas matemáticas voltadas sobretudo para o uso do Ministério da Defesa dos Estados Unidos, na questão de quebra de códigos secretos em tempos de guerra fria. No Brasil, o desafio que envolve a Matemática é de outro tipo: em testes gerais, os estudantes de ensino fundamental e médio têm tido péssimo desem-penho na matéria. "Os professores não são bem formados, os salários não são bons, atualmente o prestígio social do professor do ensino básico é pequeno e o número de alunos cresceu muito. Tudo isso nos levou a um problema sério de competência no ensino", analisa Jacob Palis, diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Se a Matemática nos níveis fundamental e médio está mal, a sorte do País é que, em termos de pesquisa de ponta, "gozamos de sólido conceito internacional", afirma Palis, que des-taca que, no ranking da União Internacional de Matemática, a enti-dade mais importante do setor, "o Brasil é o único país latino-americano que está ao lado da Hungria, Polônia, Bélgica, Austrália, China e Índia". Outra sorte do Brasil é que, em se tratando de Matemática, a elite quer socializar os lucros: "Nossos pesquisadores querem contribuir para a melho-ria do ensino em todos os níveis", des-taca Palis. Ele acredita que é essa com-petência que poderá contribuir para alavancar o ensino básico, aliada à melhoria das condições de trabalho apontadas. Como contribuição para ganhar essa guerra, o Impa tem organizado, há mais de dez anos, cursos de formação de professo-res do nível médio e, em parceria com a Sociedade Brasileira de Matemática, pro-movido as olimpíadas da disciplina em âmbito nacional e a produção de livros didáticos voltados para professores do ensino médio. "Em cinco ou dez anos podemos mudar esse quadro e ter ótimo desempenho em todos os níveis", assegura. O bicho PapãoPor que a Matemática é considerada a matéria mais difícil pelos estudantes? Segundo Jacob Palis, porque os professores não sabem ensinar aquilo que, na verdade, eles próprios não sabem muito bem. "Quem entende, adora, é paixão pura", assegura. A Matemática é uma ciência abstrata por natureza, "o que não justifica que não sejam dados exemplos concretos". Para isso, no entanto, o professor deveria saber mais, conhe-cer e desmitificar os teoremas. E para que serve a Matemática? Em Uma Mente Brilhante, o professor de Nash fala que a matéria é funda-mental para a estratégia de defesa. Jacob Palis explica que é muito mais que isso: ela desenvolve o raciocínio lógico, fundamental para todas as áreas do conhecimento, fundamental até para a resolução dos problemas cotidianos, comuns, de um cidadão normal. Um advogado que tenha sido bom aluno de Matemática terá melhores condições de estruturar uma boa defesa. Um escritor que tenha familiaridade com os números elaborará melhor seus textos, pelo menos em seus aspectos de clareza e síntese. A capacidade de elaboração de situações, de raciocínio, de síntese é estimulada pela Matemática, que também poderá dar muitas contri-buições ao País, em áreas tão variadas quanto a otimização na exploração de petróleo, clima e previsão do tempo, tecnologia da informação, a biomatemática, a otimização de processos e economia e finanças. Treinamento inclui docentes de ensino médioHá 12 anos, uma equipe experiente realiza treinamento para professores de Matemática do ensino médio. Em janeiro há um intensivo e, no decorrer do semes-tre, o grupo se reúne uma vez por mês para manter a chama. Em julho, há novo treinamento. Com uma média de 120 pro-fessores por ano, mais de mil professores de Matemática do ensino médio do estado do Rio de Janeiro passaram por essa reci-clagem desenvolvida pelo Impa (RJ). No ano passado, o Impa coordenou a feitura do projeto Instituto do Milênio: Avanço Global da Matemática Brasileira, criando uma rede de pesquisa, à qual também se ligam dez centros em desen-volvimento, de várias regiões do País, especialmente do Nordeste, Norte e Centro-Oeste, e teve como parceiros o Laboratório Nacional de Computação Científica, CPTEC/ INPE, as universida-des federais de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Fluminense, Minas Gerais e São Carlos; a USP de São Paulo, a USP de São Carlos, a Unicamp e a PUC/ RJ. O Instituto do Milênio visa a promover o avanço da pesquisa matemática e suas aplicacões, ampliar a formação de novos pesquisadores, o intercâmbio científico e o número dos centros de competência matemática no País. Ao mesmo tempo, contribuirá para a melhoria do ensino da disciplina em todos os níveis. Para alcan-çar seus objetivos receberá do MCT cerca de R$ 5 milhões ao longo de três anos.
Ampliação Em janeiro deste ano, graças ao Instituto do Milênio, o curso de treinamento intensivo para os professores foi retransmitido pela Rede Nacional de Pesquisa para a UFRS, a UFMG, a UFPE e UFCE, além da Unicamp. O curso, misto de ensino a distância e presencial, foi uma experiência de sucesso. Tanto que em julho a experiência se repetirá e, a partir de janeiro de 2003, serão atendidos mais esta-dos e professores.
fonte: http://www.mec.gov.br/acs/ftp/jornal/jmec16.pdf |