| Especial: Passado, Presente e Futuro da TI
Computerworld Luciana Coen 15.01.2004
PARTE 1 - PASSADO - Túnel do tempo
Surgido às vésperas do fim da reserva de mercado e num dos momentos mais decisivos da vida nacional, com o desenrolar do processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, o COMPUTERWORLD acompanhou e registrou ao longo dos últimos 11 anos todas as principais transformações pelas quais passou o setor de informática. Do mercado fechado à concorrência aos anos seguintes à abertura, pelas páginas do jornal vimos a chegada dos computadores pessoais e, logo a seguir, a primeira grande onda, o downsizing, que obrigou tanto as empresas nacionais quanto multinacionais a literalmente se reinventarem. O banho de modernidade que impulsionaria o mercado por muitos anos estava na aposentadoria dos velhos mainframes e na arquitetura cliente/servidor.
Presenciamos também a chegada da internet comercial que, juntamente com a onda dos sistemas de gestão,impulsionaria uma das fases mais prósperas do setor. Em meio ao frisson de uma nova economia, baseada na web, e a orçamentos milionários para implementação dos ERPs, aparece um novo desafio: o bug do milênio. Milhões de dólares foram desembolsados em tecnologia da informação e não mais em informática, termo que acabou sendo aposentado. O perfil do executivo da área também mudaria. Hoje, o CIO é um homem de negócios,com perfil de empreendedor.
Acompanhamos muitos outros episódios que marcaram a trajetória do setor nesses anos. Vimos o império de Bill Gates ser ameaçado por 19 processos antitruste e o surgimento do Linux, o software de código aberto que muita dor de cabeça tem dado à Microsoft, além da ambiciosa compra da Compaq pela HP. A seguir, o leitor poderá fazer uma viagem no tempo, relembrando os melhores momentos da história da informática, ops!, da tecnologia da informação.
1992 - 19 DE OUTUBRO
PRIMEIRA CAPA: Às vésperas do fim da reserva de mercado,em 19 de outubro de 1992, surge o COMPUTERWORLD, jornal criado para tratar de tecnologia da informação (na época da cainhamada apenas de informática) para o mercado corporativo brasileiro, em plena crise econômica, gerada em boa parte pelas turbulências do processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Naquela semana, o recém-empossado presidente Itamar Franco enviara ao Congresso Nacional medida provisória propondo, entre outros atos da reforma administrativa, a recriação do Ministério da Ciência e Tecnologia, extinto no governo Collor. O ressurgimento do MCT e a posições nacionalistas do presidente empossado causam apreensão no setor. O temor era de que o mercado de informática voltasse a ser considerado estratégico e começasse e ser regulado de acordo com determinações políticas e não econômicas.
1992 - 30 DE NOVEMBRO
COM O FIM DA RESERVA um novo cenário começa a se esboçar. O sonho acalentando por muitas empresas nacionais, durante o protecionismo, de que seria possível encarar de frente as multinacionais com tecnologia feita localmente fica definitivamente para trás. Essas empresas acabam tendo de ir ao exterior negociar contratos de transferência de tecnologia em péssimas condições ou buscar parceiros para superar a obsolescência das tecnologias desenvolvidas por elas mesmas. As subsidiárias brasileiras de grandes empresas estrangeiras também tiveram de se adaptar. A pressão de suas matrizes por melhores resultaprincipalmente nos mercados de computadores de médio porte e PCs, aumenta enormemente, o que obriga empresas como IBM, Unisys e Digital a se reposicionar.
1993 - 13 de Setembro
HÁ DEZ ANOS já se falava em commodity. Mas naquela época o termo não despertava nenhuma polêmica. As redes locais de computadores (LANs), já apregoadas desde a década de 70, começam a ganhar espaço nas empresas a partir de 1993. A quantidade de fornecedores com novas soluções para essa área cresce incrivelmente. Somente no Brasil, eram cerca de 50 empresas de olho nesse filão, entre subsidiárias de multinacionais e companhias 100% brasileiras. O fenômeno das LANs foi bastante parecido com o boom de serviços que se verifica hoje. Com o fim da reserva de mercado, as empresas de rede passam a atuar como integradoras de sistemas e a distribuir uma extensa lista de equipamentos voltados para conectividade e integração remota.
1994 - 02 de Maio
O CONCEITO DE REENGENHARIA ganha força no mercado e,com ele, o esquisito termo downsizing para definir as empresas que começavam a substituir os mainframes por redes de microcomputadores, com base na arquitetura cliente/servidor. Dois motivos impulsionaram essa primeira grande onda de TI. O primeiro era a sede por novas tecnologias que pudessem contribuir para o aumento da produtividade dos funcionários. Outra grande razão era a necessidade de cortar custos. O downsizing foi encarado como um verdadeiro banho de modernidade e o único remédio possível para reduzir os gastos com informática nas grande corporações. O momento era de crise. E os mainframes e equipamentos legados, verdadeiras dragas de dinheiro, acabaram se tornando os grandes vilões. A Shell foi uma das primeiras a anunciar que desligaria seu computador de grande porte. Mais tarde, em alguns setores, como o de bancos, verificou-se que a arquitetura cliente/servidor ainda não conseguia dar conta do processamento do grande volume de dados.
1995 - 01 de Maio
A INTERNET CHEGA ao Brasil e acaba gerando enorme polêmica, que depois se mostraria sem nexo, sobre quem ficaria com o controle da rede. Foi sob a gestão do ministro das Comunicações, Sérgio da Motta, que a chamada internet comercial começou a operar. O ministro garantia que não seria estipulada nenhuma tarifa pelo governo para acesso à internet. Ao lado de Motta na defesa da liberdade do meio, estavam Tadao Takahashi, coordenador da Rede Nacional de Pesquisas (RNP), e Demi Getschko, coordenador da rede UNSP, da Fapesp, que seria a provedora de domínios da internet. A Embratel tornou-se a provedora da i estrutura de cabos. Uma frase de Takahashi ao COMPUTERWORLD ficou marcada: Um bom jardineiro não pode afirmar que manda no jardim, porque o jardim é incontrolável. A internet, em pouco tempo, será acionada por no mínimo sete milhões de brasileiros e, para fazê-la funcionar de verdade, precisamos encontrar um caminho conciliatório. Implantar a rede é fácil, mas administrá-la é lidar com uma verdadeira fogueira de vaidades.
1996 - 18 de Novembro
AS INTRANETS, redes corporativas interligadas, finalmente ganhavam corpo nas empresas. O preço da implantação, no entanto, assumia contornos de polêmica. De um lado, havia os que diziam que o custo de implantação de uma intranet era ínfimo em comparação ao investimento necessário para a montagem de uma rede corporativa. De outro, havia os que sustentavam tratar-se apenas da ponta do iceberg, que acarretaria em mais custos à frente. Um estudo da IDC nos Estados Unidos, porém, apontava que o retorno do investimento, em média, poderia chegar a 1000%, muito além de qualquer outra inversão feita em tecnologia dinformação. O estudo ainda mostrava que o prazo para que isso acontecesse variava entre seis e doze semanas, além de proporcionar benefícios como a redução de papéis.
1997 - 25 de Agosto
UM NOVO EXECUTIVO, que ficaria conhecido pela sigla CIO (chief informationofficer), ganha espaço nas empresas. Esses profissionaispassaram a decidir desde aquela época quais tecnologias devem seradotadas pelas empresas nas quais trabalham. É com foco nesses executivosque os fornecedores hoje alinham todas suas estratégias de marketing, eventos e a força de vendas. A missão dos CIOs é suportar os negócios da companhia, mas nos últimos tempos o cargo está ganhando nova roupagem, novas funções e discurso novo. O COMPUTERWORLD também ganha cara nova e projeto novo. A partir de agora, o CIO que aparece pela primeira vez na reportagem Tradição em pioneirismo, seria a estrela de quase todas as capas do jornal.
1997 - 10 de Novembro
A ONDA DOS ERPs se torna a mais avassaladora ao longo de todos esses anos. Não que não existissem sistemas de gestão empresarial antes, mas o fato é que, depois de consolidado o downsizing, as empresas se deram conta de que precisavam de sistemas mais integrados com toda a cadeia de negócios. A demanda foi gigantesca. Numa batalha acirrada, cliente a cliente, as pequenas software houses brasileiras de sistemas de gestão expandiram suas vendas, atendendo às pequenas e médias empresas. Mas a concorrência começa a causar preocupação. Em curtíssimo prazo, a SAP dominaria o mercado com projetos milionários para grandecorporações. Dois anos depois, os pequenos seriam quase que engolidos pelos grandes players de ERP.
1998 - 20 de Julho
O SISTEMA TELEBRÁS, que reunia todas as teles estatais, é privatizado por R$ 22 bilhões. O governo Fernando Henrique Cardoso, mentor e autor da quebra do monopólio no setor, estimava que a abertura do mercado geraria aproximadamente 150 mil novos empregos no Brasil. Os fornecedores e operadoras assumem que a mão-de-obra disponível não é suficiente para atender à demanda de expansão das redes de telefonia. Dispostos a formar profissionais, se aliam às principais universidades do país e acertam convênios de cooperação tecnológica. Ao mesmo tempo, no mercado de varejo, Lojas Brasileiras e Marisa, se preparavam parinvestir pesadamente em TI.
1998 - 27 de Julho
O DESEMBARQUE EM MASSA de novos fornecedores de ERPs é estampado na capa da edição de 27 de julho de COMPUTERWORLD. Numa alusão à colonização portuguesa, a reportagem estabelecia uma relação entre a estratégia usada pelos portugueses de ocupar extensas faixas litorâneas do território brasileiro com a dos gigantes de gestão empresarial, ao concentrarem suas baterias nas 500 maiores companhias do país. O texto apontava o maior desafio que elas teriam pela frente: conseguir deslocar o foco do topo da pirâmide para atender às médias e pequenas empresas. A missão dos fornecedores estrangeiros era, ao mesmo tempo adaptar suas soluções de ERP para a realidade daquelas organizações, cuja cultura empresarial diferia das grandes corporações, além de suplantar as companhias nacionais de ERP, que conheciam todas as trilhas a serem exploradas. A J.D. Edwards seria uma das poucas software houses americanas a despontar como fornecedora de soluções para médias empresas. Em junho de 2003, ela seria comprada pela Peoplesoft.
1998 - 26 de Outubro
TRÊS MESES após privatização da Telebrás, os responsáveis pela área de tecnologia da informação das corporações locais ainda esperavam (e esperam até hoje) por maior agilidade das operadoras na solução de problemas crônicos criados no período em que eram estatais. As tão aguardadas reformas nas telecomunicações melhoria dos serviços prestados e redução das tarifas ainda fazem parte do pacote de promessas anunciado pelas operadoras no calor do leilão de transferência do setor para a iniciativa privada. E falhas no atendimento continuam sendo um dos principais problemas do setor.
1999 - 31 de Maio
A INTERNET VIVIA um momento de glória. Os gigantes internacionais, como America Online (AOL), investiam pesadamente no mercado brasileiro. A AOL chegou realizando uma das mais cobiçadas concorrências para o fornecimento da sua infra-estrutura nacional. Naqueles tempos, o Universo Online (UOL), considerado líder de mercado, observava a concorrência de olhos bem abertos, mas ainda sem ter sua posição ameaçada. Simultaneamente, uma das mais aguerridas disputas da internet que ficou conhecida como a guerra dos portais esquentava. A StarMedia, Microsoft (MSN), Yahoo e a própria AOL começavam a afiar suas garras edireção ao usuário brasileiro.
1999 - 12 de Julho
NA EDIÇÃO de 12 de julho de 1999, o COMPUTERWORLD inaugurava uma nova fase. Era criado o Computerworld Diário online. As notícias que eram publicadas nas quatro primeiras páginas do jornal impresso passaram para a newsletter online, trazendo as últimas informações sobre o setor em tempo real. A versão impressa, por sua vez, ganhava mais peso. O conteúdo editorial foi revigorado, com reportagens mais abrangentes e analíticas, novas seções, um time renovado de colunistas, entrevistas especiais e ainda o conteúdo de duas importantes publicações do grupo IDG: as revistas CIO e INFOWORLD. As mudanças acabaram coincidind com os primeiros sinais de saturação do ERP.
1999 - 26 de Julho
A LEI DE INFORMÁTICA iria expirar em outubro. Na esteira das discussões sobre sua reformulação surgia o impasse entre o Ministério da Fazenda, que não admitia a isenção do IPI para produtos de informática fabricados no país até 2004, e o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, que tentava negociar com a Receita Federal uma alíquota variável, de 1% a 3%. O ministro da Ciência e Tecnologia, Luis Carlos Bresser Pereira, saiu em defesa da manutenção da isenção do imposto. Meses depois, porém, foi noticiada sua queda e a entrada no MCT de Ronaldo Sardenberg, o que causou enorme apreensão no setor.
1999 - 06 de Dezembro
HORA H para profissionais de TI: a ceia de Ano Novo estava programada para ser servida no escritório. No último dia do ano, não era incomum ver executivos com garrafas de champanhe no carro, dirigindo-se ao trabalho. Estava todo mundo alarmado. Depois de ter provocado uma verdadeira revolução nas empresas e uma corrida contra o tempo para ajustar os sistemas à virada do milênio,o bug ainda prometia atrapalhar o réveillon de um grande contingente de profissionais, principalmente da área de TI. Nem mesmo os executivos e diretores da alta administração ficaram de fora do plantão, que teve início na manhã do dia 31 de dezembro e se estendeu até a primeira semana do ano. O aparato montado e o número de pessoas que estiveram de prontidão foi assustador.
2000 - 24 de Janeiro
NAS SEMANAS que sucederam a passagem de ano, uma estranha sensação foi tomando conta da comunidade de TI. Milhares de CIOs e seus funcionários, sem contar todos os fornecedores e integradores de TI, acabaram aproveitando a festa no escritório muito mais do que esperavam. Os prejuízos previstos com o caos eletrônico não passaram de pequenas falhas. Segundo pesquisa do COMPUTERWORLD, mais de 92% dos CIOs afirmaram que escaparam ilesos do bug. Depois da tempestade, as opiniões eram contraditórias: alguns executivos atestavam que o frisson foi exagerado. Outros não abriram a guarda: a tranqüilidade foi resultado de anos de dedicação ao tema. O fato é que até hoje muitos profissionais da área se perguntam se deveriam ter investido tanto. Valeu a pena o esforço?
2000 - 23 de Outubro
O SISTEMA OPERACIONAL gratuito Linux, até então restrito às universidades, começava a ganhar espaço dentro das corporações. Já instalado em 25% dos servidores brasileiros, ele havia crescido 93% em 1999, segundo a IDC Brasil. Na realidade, como os números de base instalada saíram praticamente do zero, um crescimento de 93% não significava muita coisa em termos absolutos de market share. O fato é que o Linux começava a ameaçar o domínio da Microsoft. Seus defensores apontavam custo, flexibilidade e bom desempenho como suas principais vantagens. Mas o problema era a mão-de-obra dispensada para desenvolvimento interno e suporte.
2001 - 11 de Abril
COMEÇAVA A CORRIDA dos bancos para se ajustar ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). Instituições financeiras e as operadoras Embratel e AT&T Latin America vencedoras preliminares da concorrência para a implantação da rede do novo sistema realizavam os ajustes na infra-estrutura de telecomunicações, com prazo estipulado pelo Banco Central até 20 de maio para início dos testes. O Unibanco investiu R$ 50 milhões em seu projeto de adequação ao SPB, sendo mais de 50% dos quais dedicados à infra-estrutura de rede. O grande problema era reajustar os contratos com as operadoras de telecomunicações.
2001 - 19 de Setembro
NUM LANCE que surpreendeu o mercado, a HP anunciava a compra da Compaq, por US$ 25 bilhões, criando a maior fabricante mundial de computadores. Ninguém esperava. O fato é que a Compaq era uma de suas maiores concorrentes no mercado. Por outro lado, a HP vinha dando sinais de crise, apresentando prejuízos e enxugando seu quadro de funcionários. A estratégia milimetricamente pensada, e que representou a maior transação da história do setor, deu à HP condições de ameaçar o domínio da IBM. A fusão foi completada em tempo recorde e agora a gigante de TI segue galgando posições sob o comando de Carly Fiorina. A executiva foi nomeada CEO da companhia em julho de 1999, tendo como missão torná-la mais ágil, dinâmica e eficiente, porém mantendo a tradição, o respeito e a reputação conquistada, desde que surgiu na histórica garagem, em 1939, no Vale do Silício, na Califórnia.
2002 - 10 de Julho
TEMPOS DE CRISE. Escândalos financeiros, queda das bolsas, crise na Argentina, alta desenfreada do dólar e eleições presidenciais. A palavra de ordem para as empresas era reduzir custos. E muitas delas entenderam que a economia teria de vir do cérebro da companhia, incluindo TI. O resultado foi que nenhuma outra onda de tecnologia pegou. Os sistemas de CRM (Customer Relationship Management) acabaram sofrendo as conseqüências dos orçamentos enxutos.
2003 - 06 de Agosto
TI NÃO TEM IMPORTÂNCIA. A idéia encerrada na frase do jornalista Nicholas Carr, em artigo publicado na revista Harvard Business Review, foi o estopim para uma das maiores polêmicas já vistas no setor de tecnologia da informação. A tese de Carr, de que TI vai virar commodity e que será vista pelas empresas da mesma maneira como hoje são vistos os serviços de água e luz, foi alvo de debates acalorados no Brasil e no mundo. Em novembro, o jornalista esteve no Brasil para participar do evento O Futuro da TI nas Corporações, organizado pela IDG Brasil. A discussão, ao que tudo indica, promete avançar por boa parte de 2004. fonte: http://computerworld.terra.com.br/AdPortalV3/adCmsDocumentoShow.aspx?Documento=27215 | Índices de notícias na mídia: 2009 | 2008 | 2007 | 2006 | 2005 | 2004 | 2003 | 2002 | 2001 | 2000 | 1999 | 1998 |