| Projeto GIGA: a primeira luz na sua rede ópticaAgência Estado Michael Stanton 09.05.2004 Os astrônomos se referem à "primeira luz", quando se inicia o uso de um novo telescópio óptico, como mês passado foi o caso do SOAR, importante projeto nacional encabeçado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) (v. coluna de 13 de fevereiro). Pegamos emprestado este termo muito apropriado para nos referir igualmente ao início das operações da tão esperada Rede Experimental do Projeto GIGA, tantas vezes mencionado nesta espaço desde a coluna de 5 de agosto de 2002 até a mais recente ocasião na coluna de 30 de dezembro de 2003. Um ano e 4 meses depois do início deste projeto, sua rede experimental finalmente começou a funcionar. A nova rede foi inaugurada formalmente com atividades realizadas em conjunto via videoconferência entre as sedes da Fundação CPqD em Campinas, da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) no Rio de Janeiro e do Instituto do Coração (INCOR) em São Paulo. A cerimônia inaugural no CPqD contou com a presença de dois ministros de estado, Eduardo Campos da Ciência e Tecnologia e Eunício Oliveira das Comunicações (v. www.estadao.com.br/tecnologia/informatica/2004/mai/08/15.htm). Com 700 km de extensão, a rede começa interligando 17 universidades e centros de pesquisa em 7 cidades dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo: Petrópolis, Niterói, Rio de Janeiro, Cachoeira Paulista, São José dos Campos, São Paulo e Campinas. Cada instituição tem acesso a 1 gigabit por segundo, e a capacidade interurbana agregada é de 10 gigabits por segundo, tornando esta a maior rede de comunicação hoje à disposição da comunidade de pesquisa e desenvolvimento no País. O Projeto GIGA é fruto de uma parceria entre o CPqD, maior centro nacional de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em telecomunicações, e a RNP, que desde 1992 provê serviço Internet para a comunidade nacional de ensino superior e pesquisa. Ele conta com a participação de quatro operadoras de telecomunicações (Embratel, Intelig, Telemar, Telefônica), que cederam fibras ópticas sem ônus, e com financiamento de R$ 53 milhões do Fundo de Desenvolvimento de Tecnologia das Telecomunicações (FUNTTEL). Foi inaugurado recentemente sítio Internet próprio do projeto (www.projetogiga.org.br). O projeto pretende desenvolver e demonstrar tecnologias essenciais para a próxima geração de Internet para uso no País, que deverá usará conexões baseadas em Gigabit Ethernet transmitido em múltiplos feixes de luz, transmitidos em fibras ópticas de longa distância, hoje viabilizados usando equipamentos desenvolvidos no País pela empresa Padtec, localizada em Campinas (www.padtec.com.br). Esta combinação é mais simples e mais barata que as tecnologias usadas hoje na oferta comercial de serviço Internet, e permite oferecer ao usuário na ponta uma taxa de acesso bem superior, tipicamente 100 Mbps, 400 vezes a capacidade de uma conexão ADSL dos serviços chamados "banda larga", como Speedy ou Velox. Com as fibras das operadoras e os recursos do FUNTTEL, foi montada esta Rede Experimental no Sudeste. Adicionalmente recursos FUNTTEL financiam a realização de numerosos subprojetos de P&D, coordenados pelo CPqD e pela RNP. O CPqD conduz três grandes subprojetos de P&D, que conta com a participação de mais de vinte grupos de pesquisadores nas universidades. Por sua parte, a RNP está em processo final de seleção para financiamento de 30 subprojetos de P&D, propostos por consórcios de universidades. Ao todo, 50 universidades e centros de pesquisa em 15 estados estão participando nos esforços de P&D do GIGA. Estas atividades pretendem desenvolver e demonstrar produtos e serviços de infra-estruture de redes, e também aplicações avançadas, envolvendo a divulgação e a busca de conteúdos multimídia e a colaboração e a visualização remotas. Por enquanto a rede do Projeto GIGA é apenas experimental, com uso restrito aos participantes dos subprojetos aprovados, e ainda localizada apenas no Sudeste. Para contribuir ao real desenvolvimento do País, esta rede precisa sair do laboratório. O primeiro passo, previsto para o início de 2005, é a aplicação das tecnologias usadas na Rede Experimental para uma nova geração da rede nacional da RNP, com a ligação de pelo menos dez estados em capacidade gigabit por segundo. Ao mesmo tempo, já foi anunciada pelo ministro Eunício Oliveira durante a cerimônia de inauguração a intenção de estender a Rede Experimental gradativamente para o resto do País, iniciando-se em 2005 pela extensão ao Nordeste. Há uma sinergia natural entre estes dois objetivos, e é de esperar-se que eles sejam concretizados simultaneamente, usando uma infra-estrutura comum de comunicação. Desta forma os investimentos caros na montagem da rede experimental beneficiariam imediatamente todos no setor de ensino superior e pesquisa nas regiões afetadas. Mas o grande benefício para o País virá quando o usuário beneficiado pelas novas tecnologias de rede for a sociedade em geral. Algo parecido já ocorreu há dez anos, quando a tecnologia Internet atual, trazida para todo o País pela RNP, vinha sendo usada apenas pela comunidade acadêmica. Entretanto, a partir do final de 1994, ocorreu subitamente a adoção desta tecnologia pela sociedade em geral, e todos já conhecemos e usufruímos dos benefícios desta opção. Esta migração ocorreu porque pelo menos uma grande empresa de telecomunicações (a Embratel) resolveu apostar na exploração deste novo mercado. A Rede Experimental do GIGA está demonstrando como criar uma nova geração de Internet, de banda muito ampla, que possibilita para os usuários da academia novos serviços de divulgação, pesquisa e colaboração, que são inviáveis na Internet atual. Para que estes serviços sejam estendidos a outros setores da sociedade, são necessários dois passos, ambos conseqüências do Projeto GIGA: criar demanda na sociedade pelos novos serviços; e demonstrar para as operadoras de telecomunicações que existem alternativas novas à maneira que hoje prestam serviço Internet a seus usuários. Se o Projeto GIGA conseguir alcançar estes dois alvos, terá cumprido sua missão. Este é o tamanho do desafio e da oportunidade histórica que nos aguarda. Michael Stanton (michael@ic.uff.br), que é professor do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense e também Diretor de Inovação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), escreve neste espaço desde junho de 2000 sobre a interação entre as tecnologias de informação e comunicação e a sociedade. Os textos destas colunas estão disponíveis para consulta. fonte: http://www.estadao.com.br/tecnologia/coluna/stanton/2004/mai/09/53.htm |