| Reserva de contingência no orçamento contradiz mensagem do presidenteJornal da Ciência Ingrid Sarti 03.09.2004 O FNDCT tem, na proposta de orçamento para 2005, o aumento de R$ 40 milhões, quando a própria Comissão de C&T da Câmara, em 2004, já encampara a idéia de R$ 100 milhões. Ingrid Sarti, cientista social (UFRJ), dirige o Programa da SBPC de Interlocução da Comunidade Científica com o Congresso. Artigo escrito ao JC e-mail: Há algo de virtual na entrega do PLOA 2005 pelo ministro do Planejamento, Guido Mantega, ao presidente do Congresso, José Sarney, no dia 31 de agosto. A Lei Orçamentária, que estima receitas e fixa despesas e assim nos revela as reais prioridades do Executivo, ainda não está disponível e só deve vir a conhecimento público quando os parlamentares interromperem seu recesso branco no dia 13 de setembro. Antes de todos retomarem o trabalho com a tarefa de avaliar e propor emendas ao Projeto de Lei, a Comissão Mista de Orçamento deverá definir as normas de tramitação das matérias, decidindo se o direito dos senadores a apresentar emendas parlamentares será (ou não) renovado. O precedente foi aberto em 2003 e os senadores querem continuar com o privilégio de apresentar uma emenda a mais por cabeça, já os deputados tendem a não concordar com a repetição da fórmula (veja mais em http://www.congressoemfoco.com.br 1/9/04). Enquanto isso, do PLOA 2005 se conhecem apenas dados agregados divulgados pelo Ministro do Planejamento e incluídos na Mensagem Presidencial que acompanha a entrega do documento (http://www.planejamento.gov.br). Nela, o presidente Lula manifesta seu apoio aos programas e projetos de C&T que a comunidade científica representada no Conselho de C&T (CCT) tem avaliado como prioridades nacionais. Menciona os chamados objetivos estratégicos nacionais, entre os quais enfatiza o Programa Espacial, o Programa Nuclear, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, o semi-árido e a plataforma marítima brasileira. São incluídos também na categoria estratégicos os programas e ações de inclusão social e divulgação científica e tecnológica, bem como a consolidação de tecnologias de rede avançadas para transmissão de dados no âmbito da Rede nacional de Ensino e Pesquisa-RNP. A Mensagem Presidencial destaca ainda a importância da Lei de Inovação e comenta o aumento de recursos destinados aos fundos setoriais. No entanto, o entusiasmo da Mensagem não se traduz na alocação de recursos destinados ao Ministério de C&T, que aumentaram 18% em relação a este ano de 2004, portanto, de forma insuficiente para viabilizar a execução de projetos estratégicos para o desenvolvimento nacional. (Tabela 1 http://www.jornaldaciencia.org.br/Images/Tabela_Orcamento.htm). A Finep, por exemplo, que através do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) desempenha a função gestora dos chamados fundos setoriais e financia projetos de pesquisa básica e aplicada, teve autorizado um aumento pífio no orçamento de suas despesas ordinárias, previsto para $ 40 milhões. Como referência, vale lembrar que a proposta de $ 100 milhões foi encampada pela Comissão de C&T da Câmara já na tramitação da Lei Orçamentária de 2004, no ano passado. Contudo, o triste argumento que fragiliza toda a exposição de intenções do Planejamento é a manutenção da reserva de contingência, instrumento do Executivo para negociar as cifras astronômicas que implicam serviço da dívida e que se traduz em retiradas do Orçamento de parcelas vultosas e essenciais para o projeto nacional de desenvolvimento científico e tecnológico. Na Lei de 2004, R$ 835 milhões dos recursos que são formalmente destinados para C&T no âmbito do MCT permanecem em reserva de contingência. Para 2005, a cifra foi levemente reduzida para $ 799 milhões. Portanto, 19% do total dos recursos destinados às despesas do MCT deixam de promover programas e projetos e passam a alimentar o superávit primário. Quando essa medida foi aplicada na elaboração da Lei Orçamentária de 2004, a justificativa estava na herança maldita do governo FHC, mas, neste momento, a análise da conjuntura econômica contida na Mensagem Presidencial é otimista, apontando um conjunto de indicadores favoráveis à economia brasileira que marcam o desempenho macroeconômico de 2004. Acrescente-se que, novamente, esses recursos congelados provém dos fundos setoriais, que constituem fontes de recursos relacionadas às áreas econômicas a que se destinam os programas, portanto, são vinculações apresentadas em forma de projeto de lei que dirigem dotações para um conjunto de objetivos específicos. Mais uma vez, o montante extraído para reserva de contingência supera os recursos líquidos autorizados aos fundos setoriais (vide tabela). A apropriação indébita vai na contramão de todo o empenho do próprio governo para estimular o investimento das empresas em C&T, dos quais a Lei de Inovação é emblemática. (Tabela 2 http://www.jornaldaciencia.org.br/Images/Tabela_FNDCT.htm) fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=21283 |