| HackersBrasileiros são maioria CorreioWeb André Carravilla 11.09.2004 Eles compram com nossos cartões, destroem informações sigilosas de grandes empresas, divulgam imagens de crianças nuas, violam nossa correspondência, falsificam dinheiro e ameaçam vidas. E, para isso, não precisam sair da frente de um computador. Cada vez mais freqüentes, as ações de hackers preocupam o governo. A Polícia Federal (PF) acredita que em cada dez quadrilhas de hackers no mundo oito são brasileiras. A informação é baseada em estimativas do governo norte-americano e foi fornecida por Paulo Quintiliano, perito criminal em Ciência da Computação da Polícia Federal. Recebemos cerca de oito denúncias por dia, alerta. A Rede Nacional de Ensino e Pesquisas (RNP), que dá acesso à internet a mais de 200 instituições acadêmicas e contabiliza cerca de um milhão de usuários, registrou, de 1997 a 2003, mais de 14 mil ataques a sua rede. O número é insignificante perto dos dados fornecidos pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil: 34 mil ataques de janeiro a julho deste ano. A PF acredita que a quantidade de denúncias não reflete a realidade. Isso acontece porque, quando os golpes são pequenos, as instituições bancárias optam por ressarcir os clientes em vez de registrar o caso. O temor se justifica: Os bancos não querem passar a imagem de fragilidade. Preferem não divulgar para não perder a credibilidade, acredita Quintiliano. Não existe nenhuma estimativa que indique o tamanho do prejuízo causado pelos hackers no Brasil. Contudo, no segundo semestre de 2003, somente em uma operação que recebeu o nome de Cavalo de Tróia, a PF apurou que criminosos cibernéticos causaram um rombo de R$ 100 milhões em bancos de quatro estados. Proteção virtualA gerente do Centro de Atendimento a Incidentes da RNP, Liliane Solha, acredita que o problema tem feito com que iniciativa privada e governo comecem a investir pesado em segurança. Eles se deram conta de que não é custo, mas investimento, explica. Os valores destinados à segurança variam de acordo com o tamanho da empresa e costumam atingir cifras milionárias. A proteção virtual não se limita aos sites das instituições bancárias. Uma das maiores dores da cabeça das empresas são os hackers contratados para fazer espionagem industrial. Há ainda casos de empresas de segurança que, para desmoralizar os concorrentes, invadem os sistemas dos clientes e, em seguida, se oferecem para sanar o problema. Pesquisas indicam ainda que os ataques nem sempre são externos. Funcionários insatisfeitos podem se transformar em problema. Por esse motivo, as empresas têm sido orientadas a restringir o acesso dos funcionários ao menor número possível de informações. Os casos de pedofilia pela internet também são preocupantes. Pesquisa feita em sete países da América Latina e Espanha indica que o Brasil concentra 60% dos casos. A Polícia Federal pode deflagrar nos próximos dias uma megaoperação para prender os criminosos, o nome já está definido: Operação Global. Cerca de cem pessoas poderão ser presas em mais de 15 estados. De mau gostoEmbora tenha diminuído, a quantidade de hackers que causa estragos por diversão ainda é significativa. O Comitê Gestor da Internet no Brasil calcula que 16 mil ataques à internet este ano foram causados apenas por vírus. Os vírus não propiciam nenhum ganho financeiro ao criador, mas são encarados por alguns hackers como uma espécie de desafio. É a sensação de vencer obstáculos que leva alguns deles a invadir sites de órgãos do governo e plantar mensagens brincalhonas. A PF acredita que tenha sido essa a motivação de hackers brasileiros que, no início do ano, invadiram o sistema do exército americano. A conduta desses criminosos é emblemática: demonstra que esse tipo de crime não tem fronteiras nem legislação que iniba sua prática. Se alguém do outro lado do mundo comete alguma fraude bancária no Brasil não será punido, mesmo que venha a ser identificado. A questão será discutida na Primeira Conferência Internacional de Perícia em Crimes Cibernéticos que será realizada pela PF a partir da próxima segunda-feira. O evento receberá mais de 500 representantes vindos de 20 países. Há dez dias foi preso mais um integrante de uma quadrilha de hackers identificada como a segunda maior do país. O grupo se hospedava em hotéis de luxo e instalava programas em computadores usados pelos clientes. Quem acessava sites de bancos enviava os dados digitados para o e-mail dos estelionatários. Os criminosos atuavam desde 1997 e vinham sendo investigados há seis meses pelo Ministério Público de Santa Catarina e pelas polícias civil e militar do estado. A PF quer que prisões do gênero se tornem corriqueiras. fonte: http://noticias.correioweb.com.br/ultimas.htm?codigo=2614301 |