| Cooperação em redeRevista do Terceiro Setor Marcelo Medeiros 08.10.2004 Há menos de um mês, o Brasil passou a fazer parte da Rede Clara, sigla que expressa exatamente seu objetivo. As cinco letras significam Cooperação Latino Americana de Redes Avançadas. Integram a iniciativa 18 países da América Latina e do Caribe que, a partir de agora, vão estar interligados pela Internet para compartilhar suas produções científicas de alto nível. Essa é mais uma rede científica da qual o país faz parte. Há outras com a Europa e Estados Unidos, por exemplo. Para o cidadão brasileiro, há benefícios diretos a partir de projetos e aplicações baseados nessas redes envolvendo a prestação de serviços à população, principalmente nas áreas de saúde e educação. Nesta entrevista, Nelson Simões, diretor geral da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) entidade que representa os interesses nacionais no consórcio latino-americano fala das vantagens dessa iniciativa e explica o funcionamento não só da Rede Clara como de outras conexões feitas pelos cientistas brasileiros. Também traz à tona formas de levar ao público o conhecimento obtido por meio dessa intensa troca. Hoje, mais que no passado, dificilmente se avança isoladamente em qualquer tema. As conexões entre os grupos de pessoas envolvidas em uma atividade qualquer são a própria essência do desenvolvimento do conhecimento, afirma. Rets - Há pouco menos de um mês, o Brasil passou a fazer parte da Rede Clara, que reúne instituições de pesquisa da Europa e do Chile por meio da Internet. Que benefícios essa integração pode trazer para os pesquisadores brasileiros? Nelson Simões - Os pesquisadores, professores e alunos estão envolvidos na aventura da ciência, da tecnologia e inovação. Hoje, mais que no passado, dificilmente se avança isoladamente em qualquer tema. As conexões entre os grupos de pessoas envolvidas em uma atividade qualquer são a própria essência do desenvolvimento do conhecimento. Uma rede passa a ser, então, fundamental para estas comunidades: para compartilhar um dispositivo único por exemplo um telescópico nos Andes do Chile ou um microscópico eletrônico no Brasil , permitir o uso de aplicações avançadas de comunicação e colaboração por exemplo, educação ou segundo diagnóstico médico a distância , entender como o El Niño ou a ocupação da Amazônia têm impacto no nosso país, entre várias outras. Rets - Como será gerida a rede? Nelson Simões - A Rede Clara é uma rede que integra 18 países na América Latina e Caribe. Foi planejada e está sendo implantada pelas redes nacionais de educação e pesquisa dos países membros de Clara (Cooperação Latino Americana de Redes Avançadas), uma organização sem fins lucrativos criada para manter e desenvolver a Rede Clara e as aplicações-chave para educação e pequisa. A Clara tem um centro de gerência de rede (NOC, em inglês) localizado no México, sob responsabilidade da Cudi (Rede Avançada Mexicana) e da Unam (Universidade Autonôma do México), e um centro de engenharia (NEG, em inglês) localizado no Brasil, sob responsabilidade da RNP. A Rede Clara já opera as conexões entre Chile, Brasil e sua interligação direta à Europa, a rede de pesquisa pan-européia chamada Geant. Estão sendo ativados os nós da Argentina, México, Panamá e Venezuela. Até o ínicio de 2005 serão ativados ainda Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Peru, Uruguai. Esse backbone ["espinhas dorsais" da internet] latino-americano e sua conexão direta à Europa/Geant fazem parte do Projeto Alice (América Latina Interconectada com a Europa), que financia, em conjunto com as redes nacionais da nossa região, os cerca de 12,5 milhões de euros necessários para a operação da rede. Rets - Que benefícios essa aproximação com a Europa pode trazer para os estudiosos do Brasil? Nelson Simões - Há uma relação histórica e profunda de colaboração entre os países da região e a Europa. No caso do Brasil há grande colaboração com a vários países em física, astronomia, saúde, meio ambiente, educação, biodiversidade. Há excelentes exemplos de aplicações nestas e noutras áreas também com os países da região. Acho que o grande resultado será a viabilização de novos instrumentos para realizar esta colaboração. Com os serviços e aplicações disponíveis através da Rede Clara será possível aumentar a interação e seus resultados. Novos projetos serão viáveis. Por exemplo, aplicações como a Ópera Aberta, que envolve a colaboração com vídeo de alta qualidade a partir de Madri para educação em música, não só na Europa. Rets - Há muito se debatem formas de integração da América Latina. Em que medida a construção de redes de pesquisa pode ajudar os países a atingirem esse objetivo? Nelson Simões - A própria criação da Rede Clara é uma forma de integrar a América Latina e o Caribe. Ela é a primeira infra-estrutura intra-regional interligando os países da região para atividades de educação e pesquisa. Isso tem impactos extremamente importantes para o fortalecimento do nossos laços culturais e a promoção de novos projetos de colaboração. O próprio exemplo de criação da RNP no Brasil mostra como uma iniciativa de rede de pesquisa é fundamental para criar capacidade humana e técnica para promoção da inclusão de outras organizações e dos cidadãos. A Clara será responsável pela sustentação desta iniciativa a partir de 2006 e uma das principais razões para fazê-lo é reconhecer que além do impacto gerado em educação e pesquisa há um componente estratégico de inclusão da região nesta sociedade do conhecimento. Rets - Além da Rede Clara, de que outras redes o Brasil faz parte e como participa delas? Nelson Simões - A RNP se interliga à Rede Clara para acesso à nossa região e com a Europa. Internacionamente, temos conexões diretas também com a América do Norte, através dos EUA. Esperamos que, com o advento de Rede Clara e sua interconexão através do PoP ["ponto de presença" internet] da Clara no México com a costa oeste dos EUA, seja criada uma excelente conexão também com a região da Ásia-Pacífico. É importante destacar que estas redes de pesquisa em todo o mundo têm conexões nacionais com as redes comerciais ou, como se diz, a Internet global. São acordos de peering [pontos de interconexão de redes, onde os principais backbones se comunicam] importantes para garantir acesso eficiente de recursos e pessoas. Rets - De que forma essas redes são ou podem ser utilizadas para a população, de modo geral? Nelson Simões - As redes de pesquisa e educação são formadas por universidades, centros de pesquisa e agências nacionais. São redes públicas, mas restritas ao uso dos pesquisadores, professores, alunos e profissionais destas instituições. Eu diria que o cidadão brasileiro colhe os frutos diretos de alguns projetos e aplicações que são baseados nestas redes e que envolvem a prestação de serviços à população, principalmente em saúde e educação. Rets - As escolas públicas estão inseridas nessas redes? Como elas podem ser beneficiadas com o aumento da capacidade de transmissão de dados? Nelson Simões - Em cada país existe uma conformação da rede de pesquisa e educação. No Brasil há um universo de 170 mil escolas públicas que precisam de uma ação em outra escala, que promova sua inclusão e a universalização do acesso, capacitação e conteúdos culturais relevantes. Pouquíssimas escolas serão beneficiadas por esta nova capacidade. Temos que garantir que a estratégia de universalização das escolas assegure uma excelente integração entre a RNP e as redes de escolas nascidas do programa de interligação de escolas à Internet. Toda a capacitação de professores, a geração e utilização de objetos educacionais e a geração de conteúdos digitais adequadas à nossa cultura será promovida principalmente por nossas universidades e centros de pesquisa. fonte: http://arruda.rits.org.br/notitia1/servlet/newstorm.notitia.apresentacao.ServletDeSecao?codigoDaSecao=10&dataDoJornal=1097269212000 |