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Mudança cultural nas universidades

Iniciativas bem-sucedidas nos campi brasileiros mostram nova relação entre alunos e professores


Teletime

09.12.2006


O Brasil ainda está longe de atingir o patamar alcançado pelos Estados Unidos, onde mais de um terço das universidades já dispõem de banda larga sem fio em seus campi. Entretanto, algumas iniciativas bem-sucedidas mostram que o meio universitário brasileiro começa a ter sua cultura modificada pelo Wi-Fi, que já transforma a relação entre alunos e professores.

Nos EUA, ao menos 60,5% dos “colleges” alocaram mais recursos para investir em Wi-Fi este ano. Por aqui, como sempre, faltam números que dimensionem o ritmo dessa adesão, mas algumas universidades federais e particulares já têm o que contar.

O diretor executivo da Vex, José Papa Neto, afirma que a fase de explicar o conceito e vantagens da mobilidade foi superada. Hoje, as demandas por parte das instituições de ensino têm sido freqüentes. “Muitas preferem operar com redes próprias Wi-Fi, enquanto outras optam por usar a rede da Vex. Em 2007 teremos mais capilaridade, saltando de 800 para 2 mil hotspots”, calcula.

Com mais de 100 mil usuários cadastrados e crescimento mensal de 15% do tráfego Wi-Fi, a Vex admite que a adesão à banda larga sem fio está diretamente ligada às vendas de laptops. “No Brasil, infelizmente, temos que lidar com um fator limitador, porém não impeditivo que é o risco de roubo ou furto dos notebooks. Mesmo assim, estamos avançando”, acredita Papa Neto.

Além, é claro, de focar a sua atenção nas universidades, seus clientes potenciais, a Vex segue ampliando sua base instalada nos shoppings, aeroportos, grandes redes de fast-food, cafeterias e restaurantes. A expectativa é fechar 2007 com 40 mil quartos atendidos por banda larga sem fio, ante a atual cifra, de 7 mil.

Em outubro, o Internet Group (que reúne o iG, iBEST e o BrTurbo) anunciou a ampliação de 10% da base de hotspots de seu serviço de conexão Wi-Fi, o Asas, que agora passa a ter 750 pontos. Disponível nas principais capitais do País, o serviço é adquirido por planos diários ou mensais, com desconto de 50% para assinantes de um dos três provedores do Internet Group.

Novo paradigma

O diretor da Faculdade de Tecnologia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Francisco Paletta, tem para si uma certeza: mobilidade deixou de ser opção. Foi em 2005 que a banda larga entrou em cena nos campi da FAAP em São Paulo, para atender a mais de 12 mil alunos e mil professores. A mudança cultural foi significativa. De um ser “passivo” da era da lousa e giz, à espera do conhecimento, o aluno passou a pesquisar em classe e em tempo real, a ser mais ativo e questionador. “Uma docência despreparada tecnologicamente é o elo mais frágil desse processo”, avalia.

Paletta conta que a instituição criou um Master em Tecnologia Educacional (MTE) para ajudar os docentes na fase de transição. Era uma necessidade, já que alguns PHDs não tinham sequer computador.

Segundo o diretor, muitas aulas presenciais dadas no “smart board” são agora gravadas, viram arquivos digitais e são oferecidas na rede, para que os alunos possam recuperar os conteúdos a partir de seus laptops e dispositivos móveis. “Nesse novo contexto, o professor precisa reinventar-se. Até o conceito de aula expositiva mudou.”

Outro dado desafiador é a falta de sintonia de muitas universidades com o mercado de trabalho. Para Paletta, as escolas precisam trabalhar com quem está na fronteira tecnológica. No caso da FAAP, por exemplo, os escolhidos para dar forma à rede Wi-Fi, com 254 pontos de acesso, foram Intel, IBM e Cisco.

O campus wireless funciona por meio de ondas de rádio, sistema de antenas interligadas para a transmissão entre os pontos de rede locais. A faixa de freqüência utilizada é de 2,4 GHz, com largura de banda de 54 Mbps. A distância máxima nominal alcançada é de 30 metros, dentro dos níveis de potência admitidos, sendo reduzida para menos de 15 metros dentro de ambientes fechados, com paredes e outras barreiras físicas ao sinal. Por meio de aplicativos, um software de controle mapeia a área sem fio, ajustando os limites de distância entre as dependências da fundação.

Os funcionários continuam sendo treinados na Cisco e na Microsoft.

Para o diretor, as aulas de hoje precisam ser diferentes, mais participativas. Na internet, a geração do conhecimento se dá a cada minuto e o aluno está mais bem-informado e atento. “Nessa nova era do desemprego qualitativo, o docente que resiste às mudanças corre o risco de virar um doutor desempregado.”

Gerente de tecnologia do Mackenzie, José Augusto Pereira Brito conta que a universidade vivencia o Wi-Fi desde 2001, quando se decidiu pela consolidação da rede de telefonia inter-prédios e aproveitou a oportunidade para testar a nova tecnologia. “Na época, havia toda uma polêmica em torno de freqüências abertas e fechadas e não existiam muitos equipamentos disponíveis localmente”, lembra Brito. “Consegui encontrar um fabricante, a Ayraia, que fornecia equipamentos com freqüência variável. E então começamos com 11 Mbps para conexão sem fio externa, chegando ao final de 2004 com 54 Mbps.”

Em 2005, mais uma vez a telefonia (que passou a ter convergência com a rede de dados, com PABX remoto sobre uma rede IP) contribuiu para o salto tecnológico. Mas Brito faz questão de enfatizar que o Mackenzie é pragmático e investe onde há demanda de fato. “Somos pé no chão, mas também gosto de trabalhar pela quebra de paradigmas. Antes, as empresas estavam à frente das escolas, mas hoje, muitas vezes, é a universidade quem demanda e conduz o processo. Aqui no Mackenzie, TV digital já é realidade. Em breve, teremos uma cobertura fortíssima com o satélite e, em matéria de conectividade, será a vez do WiMAX.”

Brito concorda que o maior desafio, mais do que acertar na escolha tecnológica, está em lidar com o choque cultural. Afinal, a internet banda larga já está na casa das pessoas, mas ainda não conquistou seu lugar ao sol na maior parte dos campi universitários. “O aluno é um nativo digital, enquanto o professor é, no máximo, um migrante analógico.”

O administrador de redes da São Judas, Fernando Merino Levadinha, conta que a universidade optou por criar seus próprios pontos de acesso Wi-Fi e também algumas ferramentas de desenvolvimento, de forma a garantir a segurança da rede. “Os alunos podem usar seus notebooks e PDAs e trabalhar num projeto no saguão do campi, enquanto aguardam um colega. O número de adeptos já é expressivo e isto se deu em um curto espaço de tempo”, diz ele, sem revelar o volume de adesões.

Em 2007, a São Judas planeja ampliar o link de acesso à internet, o que conseqüentemente se refletirá no Wi-Fi, de forma a atender mais usuários. A abrangência do sinal também será revista e expandida para novos locais do campus.

Na Universidade Anhembi Morumbi, o acesso ao Wi-Fi ainda é restrito aos professores, alunos de mestrado e MBA. Mas os planos para o próximo ano são estender o acesso a todos os alunos.

Revolução silenciosa

O coordenador de pesquisa e desenvolvimento da RNP (Rede Nacional de Pesquisa), Leandro Rodrigues, revela que em breve a PUC do Paraná, a Federal do Paraná e a UTFPR (antigo Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná), além da Universidade Federal do Pará, deverão se integrar à ReMesh. Trata-se da Rede Mesh de Acesso Universitário Faixa Larga sem Fio, uma alternativa tecnológica ao Wi-Fi, em fase de expansão. O projeto surgiu a partir da formação de um grupo de trabalho, coordenado pelo professor Célio Vinicius Neves de Albuquerque e desenvolvido por uma equipe formada por pesquisadores, alunos de mestrado e de graduação do Instituto de Computação (IC) e do Departamento de Engenharia de Telecomunicações (TET) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Em uma rede mesh, os nós fixos constroem uma malha de transmissão sem fio em faixa larga em locais onde não existe infra-estrutura física ou o custo de comunicação por outras redes é elevado. As possibilidades de uma rede mesh vão desde a ligação de equipamentos em uma casa digital à conexão de uma comunidade.

Na experiência da RNP foi estruturada uma rede comunitária com oito roteadores instalados no topo de prédios, que distam entre si cerca de 500 metros, e outros nove roteadores instalados em um mesmo prédio de 12 andares, constituindo uma rede de 4,5 km quadrados. O acesso é apenas para alunos e funcionários da Universidade Federal Fluminense, ficando bloqueado para usuários sem senha. A circulação da informação se dá por saltos de um roteador para outro, até que se encontre o destinatário, que pode ser o gateway de acesso à internet. Uma rede mesh pode ser orientada para menor tempo de entrega e menor perda de capacidade etc. A rede da UFF é orientada para menor perda e é limitada a sete saltos, com capacidade mínima de 500 Kbps.

Trata-se da primeira experiência brasileira na construção de redes mesh comunitárias e espera-se, com a iniciativa, desenvolver um protótipo de roteador sem fio para rede de acesso faixa larga do tipo mesh, bem como formar mão-de-obra especializada na área e ainda desenvolver um protocolo de roteamento com qualidade de serviço para suporte a transmissão multimídia em redes ad hoc. “Estamos em uma fase de prospecção tecnológica, evoluindo nosso projeto. O objetivo final pode ser gerar um serviço para outras universidades interessadas em participar”, observa Rodrigues.

A Universidade de Fortaleza (Unifor) já dispõe de uma rede sem fio por todo o seu campus, batizada de Unifor Mobile, que permite aos alunos, professores e funcionários a conexão com a internet de qualquer lugar da universidade, nos seus 700 mil metros quadrados da área. Para usar o sistema é necessário notebook ou palmtop (computador de mão) com suporte à tecnologia Wi-Fi (padrões 802.11b ou 802.11g). Para quem tem computador sem esse recurso incorporado, a Unifor oferece em sua biblioteca cartões PCMCIA, que podem ficar em poder dos usuários por até três dias. Depois de devolvidos, são usados para um novo empréstimo. A rede Wi-Fi é conectada ao link acadêmico da Unifor com a RNP e deve ter sua velocidade expandida para 1 Gbps.

WiMAX em Ouro Preto

Patrimônio cultural da humanidade pela Unesco, Ouro Preto está vivenciando mineiramente uma experiência pioneira no País: a implantação de uma rede WiMAX de longo alcance, que envolve três escolas públicas estaduais e duas municipais, a Biblioteca Pública Municipal de Ouro Preto, as secretarias municipais de Planejamento e de Saúde e o Laboratório de Redes de Computadores do Departamento de Computação da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Mais três escolas municipais e duas estaduais serão contempladas, usando Wi-Fi ligado à rede WiMAX.

A coordenação do projeto coube ao professor Américo Tristão Bernardes, do Departamento de Física da Ufop. Bernardes é também representante do Ministério da Educação (MEC) no Conselho de Administração da Associação RNP.

Em 2004 foi firmado um acordo entre a Intel e o MEC para conexão de escolas à internet com tecnologia sem fio. O Ministério convidou a RNP a participar do projeto e, dois meses depois, realizou-se um treinamento em Brasília.

Uma primeira experiência foi feita na capital federal no último trimestre de 2004, abrangendo uma área com um raio de 35 quilômetros. Foi uma prévia do que aconteceria em Ouro Preto.

No ano passado foram instalados os equipamentos na cidade mineira, que não tem conexões de banda larga em grande escala, especialmente por sua topografia acidentada. Foram usados equipamentos das empresas Aperto e Alvarion, operando em 3,5 GHz, uma freqüência não-pública, graças a uma concessão temporária da Anatel.

Essa rede foi configurada para ter duas saídas para a internet: uma via RNP, para instituições de ensino e pesquisa (“rede educacional”), e outra via operadora de telecomunicações, para outras organizações (“rede comercial”). Na primeira frente, a RNP ampliou a capacidade da conexão da UFOP ao backbone nacional acadêmico para 34 Mbps, viabilizando o acesso externo sem comprometer o projeto. Na outra ponta, a Telemar emprestou dois links de 2 Mbps para o acesso comercial.

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