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Universidades criam rede interligada de informações para gerir as cidades


CM Consultoria

24.03.2011


Dados sobre atendimentos de emergência, monitoramento ambiental, segurança, trânsito, educação de qualidade e mais dezenas de itens necessários para uma cidade funcionar, tudo interligado e com acesso rápido por meio de um sistema de comunicação inteligente usando tecnologia sem fio. A criação de uma rede assim, capaz de ser eficiente até mesmo em casos de urgência, como em uma grande catástrofe, é tema de estudo de diversas instituições de pesquisa brasileiras, que se dedicam a pensar — e realizar — as cidades do futuro.

“A partir de um edital, oito propostas de pesquisa foram reunidas no Brasil. Criou-se uma rede em torno do tema cidades inteligentes, na qual os pesquisadores terão a chance de trabalhar dentro de uma filosofia em comum”, define Aldri Luiz dos Santos, professor do Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador-geral do projeto, que tem o prazo de conclusão de 24 meses.

Mas como será essa infraestrutura de comunicação e informação nas cidades brasileiras? Em quanto tempo vai ser possível acessá-la? As respostas para essas questões são justamente o que esperam encontrar os pesquisadores dos diversos centros reunidos no projeto, batizado de Construindo cidades inteligentes: da instrumentação dos ambientes ao desenvolvimento de aplicações. Financiado pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologias Digitais para Informação e Comunicação (CTIC), da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) do Ministério da Ciência e Tecnologia, o estudo propõe um aprofundamento da pesquisa em torno do tema. O conceito abrange a oferta de serviços de comunicação e informação com o objetivo de melhor atender o cidadão nos conglomerados urbanos, garantindo também uma gestão pública mais eficiente.

Um dos conceitos atuais de cidade inteligente é o de rapidez de resposta frente a diversos problemas — trânsito congestionado, saturação num determinado hospital, emergência na área central etc. E, para isso, um núcleo urbano precisa de comunicação eficiente. Para viabilizar a aplicação prática do projeto, no entanto, serão necessários de 20 anos a 30 anos. “Há muito trabalho a ser feito nessa área e vai demorar bastante. Mas a proposta está fomentando gestões públicas inteligentes que tenham a ver com a tecnologia de comunicação e informação”, acrescenta o professor.

Segundo explica Santos, da UFPR, o primeiro passo para construir uma cidade inteligente é adquirir dados urbanos, por meio de redes de sensores e internet. “Depois, vêm os sistemas de comunicação, armazenamento e acesso dos dados por meio de tecnologias de rede sem fio, além da construção de aplicações que beneficiem essa infraestrutura. Por isso, o projeto é subdividido em três vertentes: instrumentar para que sejam criadas tecnologias ligadas à internet, comunicação entre redes sem fio e sensoriamento de ambientes”, lista.

Para isso, os pesquisadores estão sendo incentivados a investigar esses campos para criar ferramentas que aumentem a eficiência do poder público. Para desenvolver um sistema de saúde, por exemplo, é preciso coletar dados e enviá-los para uma outra rede que possa armazená-los de maneira organizada e de fácil acesso. “Ou seja, é preciso ter uma infraestrutura de comunicação para que os dados cheguem até onde o governo deseja. É o que o projeto propõe. A partir daí, será necessária uma segunda rodada de estudos para que o governo decida como essa plataforma será usada”, especifica Santos.

Diferenças

Para o coordenador-geral do projeto, as diferentes realidades entre os municípios brasileiros exigirão parâmetros específicos num segundo momento. “Ainda não está definido como a plataforma poderá ser aplicada numa cidade pequena ou muito grande. A tecnologia de transmissão de dados numa metrópole como Belo Horizonte é muito mais complexa do que numa cidade do interior”, cita. Outro fator distinto de aplicação é a área envolvida. “A forma como tratamos a saúde pública e a educação é diferente. Um dos ambientes de teste do projeto ligado à comunicação e ao sensoriamento será Belém, que é cortada por um rio muito grande, onde é preciso comunicar de uma margem à outra. Para isso, será usada uma tecnologia diferente do que a aplicada em São Paulo”, revela o professor do UFPR.

Na visão de Santos, as cidades inteligentes são uma tendência inevitável. “O projeto permitirá ações dinâmicas. O país vai economizar dinheiro, melhorar o atendimento ao cidadão e poder planejar melhor. Hoje, ainda é necessário fazer uma estatística para levantar dados. Com as cidades inteligentes, tudo isso será acompanhado em tempo real”, acrescenta. O valor total financiado pela RNP, que envolve cerca de 30 professores, é de R$ 1,88 milhão, a ser distribuído igualmente entre as instituições. Ao lado da federal do Paraná, estão envolvidas na iniciativa outras 17 instituições, incluindo a Universidade de Brasília (UnB), as federais de Minas Gerais (UFMG) e do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de São Paulo (USP).

Trânsito monitorado

Fica mais fácil imaginar que tipos de benefícios o megaprojeto poderá trazer ao cidadão observando os estudos que estão sendo feitos na área de monitoramento do tráfego de veículos. “O problema é bem simples. Quando se usa um GPS para traçar uma rota, o equipamento considera somente um mapa como fonte de informação, desconsiderando outros fatores como alagamentos em pista, chuva, congestionamentos e obras. No projeto, buscamos prover informações para que a tomada de decisões seja imediata. Caso exista um alagamento ou até mesmo tendência a congestionamento, a rede conseguirá identificar e distribuir rotas alternativas ao usuário”, explica Sérgio Oliveira, professor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), que coordena os estudos sobre comunicação sem fio do projeto com as universidades federais de Ouro Preto (Ufop), de Minas Gerais (UFMG) e de Alagoas (Ufal).

Na prática, câmeras que já existem nas vias hoje poderão ser usadas incorporadas a sensores que estarão dentro dos carros. “Tudo isso auxiliaria a inferência de informações sobre fluxo, licenciamento dos veículos e pontos de incidência de assaltos, dentro do conceito maior de aplicação que é a cidade inteligente”, acrescenta o professor da Ufal André Luiz Lins de Aquino.

Na busca por novas soluções urbanas, diferentes tipos de tecnologia estão incluídas. Exemplo disso é a RFID, sistema similar ao aplicado em pedágios automáticos, no qual a placa de determinado automóvel é identificada ao trafegar por uma via, reunindo informações sobre o fluxo de veículos e quais rotas cada carro está tomando. Já o sistema Vanet é uma rede de comunicação entre os próprios veículos capaz de evitar até mesmo colisões ao compartilhar dados. Na rede metropolitana, que cobre toda a cidade inteligente, todos os veículos estarão interligados. “Isso permitirá que a BHTrans, que gerencia o trânsito de Belo Horizonte, e a Central de Engenharia de Tráfego (CET), de São Paulo, compartilhem informações”, exemplifica Oliveira.

Transição

Até que os novos sistemas comecem de fato a funcionar, um longo processo de transição tecnológica está por vir. “Isso porque a comunicação sem fio tem limitações, principalmente em termos de velocidade”, afirma o professor da UFSJ. Segundo ele, a tendência é que as redes das cidades inteligentes caminhem para uma aplicação mista entre fibra ótica e rede sem fio, sem que a tecnologia de fibra atualmente usada nos principais corredores das cidades seja retirada. “A distribuição do sinal poderia ser feita pela comunicação sem fio, mas ficaria limitada. A fibra ótica é no mínimo 10 vezes mais veloz.”

Como comparação, Oliveira mede a velocidade das duas tecnologias: enquanto a ótica é capaz de transferir 10 gigabytes por segundo, a sem fio transmite apenas 1 gibabyte. “Em alguns municípios do Brasil, até seria possível fazer a comunicação totalmente sem fio, mas numa cidade maior, onde o fluxo de comunicação é muito grande, não dá”, conclui. O esforço para substituir, remover e forçar as pessoas a não usar a fibra ótica, para Lins de Aquino, seria crítico. “Acredito num funcionamento interligado, numa evolução natural, e não por imposição”, conclui.

fonte: http://www.cmconsultoria.com.br/vercmnews.php?codigo=50310

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