RNP > Notícias RNP > 2005

Uruguai lança oficialmente a rede avançada RAU2 e sua conexão à Clara

Comunidade Européia apóia ampliação regional da América Latina em reunião do Projeto Alice

Montevidéu, 29 de novembro – O Uruguai é o mais recente país a compartilhar o ambiente de redes acadêmicas avançadas latino-americanas. Na manhã desta terça-feira, 29 de novembro, foram lançadas oficialmente a Rede Acadêmica Uruguaia (RAU2) e sua conexão à Rede Clara, em Montevidéu. Representantes de diversas redes acadêmicas da região e da Europa, que estão no Uruguai para a 5ª Reunião do Projeto Alice e para a Assembléia Geral da Clara, estiveram presentes ao lançamento e, ao final, aplaudiram a apresentação de dois violonistas num duo a distância entre Uruguai e Japão, via rede.

Participaram do lançamento o ministro da Educação e Cultura do Uruguai, Jorge Brovetto; o embaixador no Uruguai da delegação da Comissão Européia, William Hanna; o presidente da Clara, Nelson Simões; o diretor financeiro de Dante, Matthew Scot; o presidente da seção espanhola da Internet Society, Victor Castelo, diretamente de Madri, na Espanha, por videoconferência; e a diretora da rede RAU2, Ida Holz. Após os pronunciamentos, a platéia de cerca de 150 pessoas assistiu a uma série de cinco demonstrações de uso da rede.

William Hanna destacou o interesse mútuo das comunidades científicas da Europa e da América Latina no desenvolvimento de pesquisas em diversas áreas, como telemedicina e previsão de desastres. Ele vê duas perspectivas positivas que sustentam o apoio da Comissão Européia à ampliação da rede regional na AL. Além do desenvolvimento da tecnologia, a iniciativa também gera benefícios econômicos pois dá sustentação ao desenvolvimento regional.

Nelson Simões lembrou das dificuldades enfrentadas na região para concretizar o sonho de interconectar as instituições de pesquisa e desenvolvimento dos países. A escassez de serviços adequados de telecomunicações e a falta de financiamento adiaram por cerca de 12 anos esse projeto. O apoio da comunidade européia, em especial, o empenho de países como Espanha, França, Itália e Portugal, somados à capacidade de organização e mobilização das comunidades de pesquisa dos países da América Latina e Caribe, reverteram esse quadro a partir de 2003. A Rede Clara, lançada em setembro de 2004, encerra 2005 com nove países interconectados e tem planejada a conexão de mais nove em 2006. "A rede Clara é a materialização da consciência regional de que não haverá desenvolvimento sem redes", declarou Simões.

Victor Castelo lembrou que existe uma evidente diferença no grau de desenvolvimento do ambiente de redes acadêmicas nacionais entre os diversos países da região. Contudo, ele observou que a criação da Clara e a consolidação das infra-estruturas nacionais mais desenvolvidas é uma força propulsora para um maior comprometimento oficial com a pesquisa nos países com maiores dificuldades.

Demonstrações de uso da rede

Cinco projetos foram apresentados como demonstrações do potencial de uso da rede RAU2 antes que a manhã terminasse. Em todos eles, pesquisadores uruguaios falaram de seus trabalhos em parceria com pesquisadores de outros países, na América Latina, na Europa e no Japão. As apresentações eram vídeos previamente gravados, nos quais os projetos eram resumidos e incluíam imagens de experimentos utilizando a rede em tempo real.

Luis Mussio, chefe do setor de Metrologia Científica do Laboratório Tecnológico do Uruguai apresentou um experimento de calibração de voltagem, corrente e potência realizado em conjunto com o Centro Nacional de Metrologia do México. Para Luis, a RAU2 vai apoiar fortemente o trabalho em sua área que é baseado na comparação de padrões de medição nacionais e internacionais, no reconhecimento mútuo desses padrões e na formação de recursos humanos.

Gonzalo Tancredi apresentou os telescópios robóticos, os quais permitem operação remota. Os astrônomos que têm acesso ao sistema não precisam se deslocar até o local onde estão instalados os telescópios, normalmente em regiões remotas próximas dos polos e despovoadas, para evitar as poluições atmosférica e luminosa. Por meio de uma interface Web, eles podem fornecer as coordenadas de objetos celestes que desejam observar e aguardar até que o telescópio se posicione de acordo com as informações de localização fornecidas para, então, fazer seu trabalho. Segundo Tancredi, há uma coleção de telescópios educativos ao redor do mundo cujo uso vai se beneficiar cada vez mais da operação remota via rede avançada. Os estudantes poderão ter acesso aos equipamentos a distância durante o período escolar, uma vez que será possível, por exemplo, para estudantes do Uruguai, durante o dia, fazer observações noturnas em equipamentos instalados na Austrália.

Angel Caputi apresentou um projeto em parceria com uma instituição francesa de processamento e interpretação de imagens elétricas biológicas via rede. O estudo tenta identificar os padrões de imagens elétricas utilizados por uma espécie de peixe que não enxerga para identificar seus alimentos.

Fabian Capdevielle falou sobre manipulação genética para melhoramento do arroz, num projeto que conta com a participação de pesquisadores brasileiros da Embrapa.

Luis Ruso mostrou, entusiasmado, como a rede está apoiando o campo da medicina, nas áreas de assistência, docência, pesquisa e em todas as fases do processo clínico. As redes avançadas com grande capacidade de transmissão de dados, aliadas a sistemas específicos, permitem o tráfego de imagens de alta qualidade e viabilizam, assim, a distribuição de todos os elementos de avaliação clínica com a mesma qualidade da imagem original.

O evento foi encerrado com a apresentação dos maestros Eduardo Fernandez, em Montevidéu, e Shin-Ichi Fukuda, em Tóquio. Eles apresentaram um duo para violão, de Fernando Sol, Souvenir de Russia, Opus 63. Ainda que gravada previamente, a peça de cerca de dez minutos despertou a emoção da platéia, que aplaudiu entusiasmada.

A conexão de fato do Uruguai à Rede Clara foi estabelecida no dia 6 de junho de 2005, através de um enlace de 34 Mbps. No entanto, a RAU2 estava operando experimentalmente até novembro deste ano.

[RNP, 29.11.2005]