![]() | A Internet e a RNPCultura Online Liliane Bello 05.09.2005 Há dez anos, a internet brasileira começava a ganhar novos rumos: começava a era da rede para os provedores comerciais. Mas na verdade, sua existência é bem mais antiga até mesmo aqui no Brasil. Antes restrita ao meio acadêmico, voltada sobretudo para pesquisas científicas, ela evoluiu muito desde então. No Brasil, uma das peças-chave para a criação da internet e para sua evolução foi a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Confira entrevista feita pelo Canal Cultura com Eduardo de Carvalho Viana, da Gerência de Comunicação e Marketing da instituição. Cultura - A internet foi liberada para fins comerciais no Brasil há exatos dez anos. No entanto, sabe-se que a sua história é mais antiga. Como se deu a inserção da internet no Brasil, de fato, e qual o papel da RNP nisso? Eduardo - Tudo começou com iniciativas isoladas no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, no final da década de 1980. Algumas universidades possuíam conexões de rede diretamente com os Estados Unidos, mas, paradoxalmente, não se comunicavam entre si. Para integrar estas iniciativas e espalhar uma rede Internet pelo país, foi criado, em 1989, o projeto Rede Nacional de Pesquisa, vinculado ao CNPq. Mas só se pode falar de internet no Brasil de fato a partir de 1991, quando foi inaugurada a primeira rede da RNP, que atingia 11 estados brasileiros, com velocidades entre 9,6 Kbps e 64 Kbps. Ainda era uma internet acadêmica, com uma conexão aos Estados Unidos partindo de São Paulo. O papel da RNP neste princípio foi fundamental. Não só por expandir a rede e integrar o País, mas por atuar na divulgação da internet, na formação de uma consciência acerca de sua importância estratégica para o país, na capacitação de profissionais de redes e na montagem de repositórios temáticos. Cultura - E como a internet deixou de ser restrita ao meio acadêmico? Eduardo - A primeira vez que essa infra-estrutura foi aberta a um público mais amplo do que o acadêmico foi em 1992, durante a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio-Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida como ECO-92, no Rio de Janeiro. Foi disponibilizada uma infraestrutura de acesso à internet para servir de alternativa aos milhares de jornalistas internacionais que cobriam o evento e precisavam se comunicar com suas redações de origem. Em 1999, a RNP passou a chamar-se Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, tornando-se independente do CNPq. Em 2002 a Associação Rede Nacional de Ensino e Pesquisa passou a operar a rede acadêmica nacional sob contrato de gestão com o Ministério da Ciência e Tecnologia. Cultura - Como o senhor vê o avanço da internet nesses anos? O seu crescimento foi algo astronômico ou estava dentro das perspectivas? Eduardo - Na minha opinião, estava dentro das perspectivas. Na verdade, havia uma grande demanda represada. Muitas pessoas estavam usando as BBSs (bulletin board systems) para se comunicar por redes de computadores. Além disso, podia-se perceber que, no mundo inteiro, assim que a internet surgia, começava a crescer muito rapidamente. Cultura - O que se pode esperar dessa tecnologia para os próximos anos? Eduardo - A conexão à internet por banda larga ainda tem muito a crescer. Com isso, será cada vez maior a procura por conteúdo e multimídia. Então, a ampliação de conteúdo de áudio e vídeo é algo que já é visível hoje e só tende a aumentar. Também será possível ampliar a oferta de serviços pela internet, como a realização de telediagnósticos. O que hoje é feito nas redes acadêmicas pode muito bem chegar às casas das pessoas. Videoconferência e transmissão de vídeo com qualidade de TV; telefonia IP e outros serviços e aplicações que demandam alta largura de banda e qualidade de serviço. Na verdade, parte disso já está disponível para quem tem acesso à banda larga doméstica (normalmente, entre 128 Kbps e 512 Kbps), como o Skype e assemelhados. Os pesquisadores acreditam que, num futuro não muito distante, tudo estará integrado à rede, da televisão à torradeira. Você poderá comandar todos os equipamentos de sua casa a partir de um celular, ou do seu palmtop, ou de qualquer outro equipamento que se conecte à rede, esteja você onde estiver. Cultura - Antes de se tornar comercial, qual era o grande papel da internet? Eduardo - Michael Dertouzos (já falecido), um dos pais da internet e pesquisador do MIT, conta que a primeira rede de computadores foi criada não só por objetivos militares, como muitos pensam, mas também (e, talvez, principalmente) por razões econômicas. A integração de computadores em rede era uma maneira de baratear os custos para as pesquisas. A rede que deu origem à internet, a Darpanet, surgiu no seio do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, no final dos anos 1960, e foi rapidamente expandida para o meio acadêmico. Com o tempo, os militares saíram dessa rede, formando a Milnet, e os pesquisadores continuaram integrando mais e mais instituições através da formação e intercomunicação de diversas redes. Até o final da década de 80, a rede era usada quase que exclusivamente por pesquisadores. O primeiro grande impulso do uso comercial ocorreu em 1991, quando Tim Berners-Lee criou a World Wide Web. Dois anos depois, Marc Andreessen inventou o Mosaic, o primeiro browser para navegação na internet, popularizando de vez a rede mundial. Resumindo: o grande papel da internet antes de se tornar comercial era dar suporte à pesquisa científica e acadêmica. Cultura - Quais eram as características da recém-nascida internet, como velocidade, capacidade de comunicação, custo, manutenção etc? Eduardo - Não tenho dados específicos para responder a essa pergunta. Em termos de Brasil, pelo menos, a velocidade era baixa, a capacidade de comunicação era deficiente (porque não existia infra-estrutura de rede bem disseminada no país e em conseqüência da baixa velocidade), o custo era alto (o monopólio do setor de telecomunicações fazia com que os preços fossem muito altos) e a manutenção era complicada (porque havia carência de profissionais habilitados). Cultura - Em 1995, quando ela começou a ser comercializada, o acesso em banda larga era apenas um sonho distante? Eduardo - Banda larga é um conceito um tanto relativo. Uma mensagem simples de e-mail tem cerca de 5 Kb. Se você tem um modem de 56 Kb de uso exclusivo, pode enviar até dez mensagens simultaneamente em apenas 1 segundo. Se o que você quer da internet é apenas enviar mensagens, sua banda é suficientemente larga. Então depende do que se deseja fazer. Se você vai usar seu computador para baixar MP3, um modem de 56 Kbps não lhe ajudará muito. Para baixar uma música como "Pais e Filhos", da Legião Urbana, você demorará cerca de dois minutos (não parece muito, mas fique dois minutos olhando para o computador para ver a impaciência que dá). Nem pense em tentar baixar um filme de duas horas. Na verdade, a "banda larga" é sempre um sonho distante. Quanto mais se tem, mais se quer. Por outro lado, pode-se dizer que a banda larga era um sonho distante naqueles idos de 1995, porque faltava infra-estrutura como fibra óptica espalhada pelo país. A própria RNP precisou esperar alguns anos para partir para a segunda fase da rede (RNP2). Entre 1997 e 2000, a rede acadêmica estava bastante sobrecarregada em alguns pontos, sem possibilidade de crescer. Naquela época, 2 Mbps (velocidade "exagerada" para uso doméstico ainda hoje) era muito pouco para ligar os pontos de presença da RNP entre Rio de Janeiro e São Paulo. Precisava-se de muito mais. O que só foi obtido em 2000, com a implantação da rede RNP2. Para você ter uma idéia, o salto foi de 3,2 Mbps de banda agregada (soma todas as conexões da rede RNP), em 1996, para 200 Mbps em 2000. Cultura - E hoje, qual é o papel da RNP na internet brasileira? Eduardo - Hoje a RNP está implantando um novo paradigma de rede no país, com o uso de tecnologia óptica. Com isso, os custos caem vertiginosamente e a capacidade de ampliação de banda cresce também de forma espantosa. Sobre uma única fibra óptica é possível atingir-se uma velocidade inimaginável (a capacidade teórica da fibra é de 50 terabits por segundo, o equivalente a 50 milhões de megabits por segundo ou 50 mil gigabits por segundo). A missão da RNP, desde que foi fundada, é promover o uso inovador de redes avançadas no Brasil. E é isso que ela tem feito, através da formação de grupos de trabalho em serviços e aplicações inovadoras, da criação de redes experimentais, como a rede do Projeto Giga, e do incentivo à formação de redes, como a iniciativa Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa (Redecomep). Neste sentido, a RNP continua tendo um papel importante na internet brasileira, uma vez que está trabalhando na ponta, desenvolvendo as tecnologias que serão usadas, no futuro, por todos. Além disso, a RNP cumpre o importante papel de conectar as instituições de ensino e pesquisa entre si e a parceiros no exterior, oferecendo uma rede de alto desempenho, com serviços avançados, contribuindo, com isso, para o progresso da ciência e tecnologia no País. fonte: http://e-commerce.cultura.com.br/shopping/mostra_noticia.asp? txtEntidade=62760 |