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Encontro histórico retoma contexto de redes antes da criação da RNP

15/05/2017 20:17

Uma volta no tempo. Essa foi a sensação dos participantes do painel histórico do WRNP, que trouxe três especialistas que viveram grande parte da história das redes no Brasil: os professores Paulo Aguiar, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Liane Tarouco, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e o diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), Augusto Cesar Gadelha.

A moderadora foi a assessora de Comunicação da Associação Nacional para Inclusão Digital (Anid), Marcia Dementshuk, que conduziu o bate-papo e os convidados a relembrarem alguns pontos da história. Esses fatos estão sendo reunidos na pesquisa ‘Pássaros voam em bando’, iniciada em julho de 2015, que já entrevistou 72 pessoas e terá seu conteúdo disponibilizado em um livro.  “Vocês verão como os projetos desenvolvidos sobre conectividade e internet podem ser baseados em iniciativas muito antigas, das décadas de 70 e 80”, destacou.

Ela abriu a apresentação trazendo uma curiosidade, de que o primeiro sistema automação bancário foi em Belém, em 1976. “É incrível ver essa história acontecendo e como as coisas foram sendo descobertas aos poucos. E hoje a gente não se sabe para onde vai e até onde podemos chegar, pois as pesquisas as vezes tomam rumos que vão além do imaginável. Parabéns à RNP por ser a massa crítica atual na área de redes”, ressaltou a assessora.

Uma das histórias expostas foi a tentativa de rede das universidades do Sul, entre 1973 e 1974. Os reitores das Universidades Federais de Santa Maria (UFSM), de Rio Grande (Furg) e de Pelotas (UFPel) queriam se conectar remotamente ao B6700 da UFRGS, que chegou em junho 1972. A história da ligação desse mainframe no campus da Saúde com os terminais no campus da Engenharia e Física tinha se espalhado e houve um interesse de criação de uma rede acadêmica. Na época, Liane Tarouco era estudante de mestrado e acompanhou essa ligação. “O mainframe chegou para melhorar e reduzir o delay de conexão”, destacou Liane.

A professora foi estimulada a contar sobre sua experiência de como foi desenvolver redes nas décadas de 1970 e 1980. Veja abaixo os principais destaques apresentados por ela:

1973 - No Brasil, imperavam as redes de teleprocessamento baseado em mainframe, programação online e terminais teleimpressores e monitores

1977 - Primeiras experiências com o uso de terminais para ensino e aprendizagem

1979 - 1º Simpósio Nacional de Computação na Educação

1973 - Início de cursos de graduação - Tecnólogos em P&D

1977 - Publicação do Livro ‘Redes de Comunicação de Dados’, da professora Liane

1982 - Esforço de popularização das redes

1988 - Servidor de e-mail na UFRGS

1993 - A Penta chegou na UFRGS e foi servidor para as primeiras páginas www

         - Backbone em fibra ótica na UFRGS

         - Integração com sistema de interligação das centrais de PABX

         - Acesso de ‘alta velocidade’ (64 kbps) disponível a pesquisadores de todo o país

Em seguida, o diretor Augusto Cesar Gadelha falou sobre a década de 1980, que ele definiu como “época heroica, com problemas complicados”. Gadelha destacou o papel de alguns grupos nesse período, em prol do desenvolvimento em rede. Um deles era a academia, que queria desenvolver a tecnologia. “Muitos alunos e pesquisadores americanos vinham ao Brasil e exaltavam os benefícios que estarem conectados com outros pesquisadores e comunidades acadêmicas, visto que eles já possuíam redes acadêmicas sendo construídas e o Bitnet”, explicou. Com isso, foi criado no nosso país pesquisadores que queriam a rede para conectar-se entre si, principalmente os físicos. Além disso, tivemos os pesquisadores que provocaram o governo a tomar uma atitude contra o monopólio da empresa de telefonia da época.

Após muitas negociações, em maio de 1987, foi criado um projeto para a compra de um supercomputador e a instalação de dez estações remotas nas principais instituições de pesquisas e desenvolvimento do país ligados no LNCC/CNPq por uma rede de computadores. “Essa seria a solução para abrir a rede aos pesquisadores, que de alguma forma estavam ligados ao CNPq”, ressaltou Gadelha.

O professor da UFRJ, Paulo Aguiar, também teve a oportunidade de contar um pouco de sua experiência em forma de linha do tempo, trazendo referências do que viveu sobre a história das redes do Brasil. “É importante que ninguém se esqueça dos dramas do passado, pois eles refletem o desenvolvimento presente e explica um pouco a história. Precisamos passar por isso para chegarmos onde estamos hoje”, destacou.

Confira os principais destaques feitos por Aguiar:

1985 - Laboratório Nacional de Redes de Computadores (Larc) visita a rede acadêmica alemã DFN e propõe criar a BRAINS (Brazilian InformaDon Network for Sciences), com ênfase no uso da rede de pacotes pública X.25 (RENPAC)

1987 - Autorização da National Science Foundation (NSF) para interconexão com a NSFnet (TCP/IP)

          - Reunião na Universidade de São Paulo (USP) com redação de proposta para o PLANIN-II, criando a Rede Nacional de Pesquisa (RNP), encaminhamento de plano para proposta da RNP e decisão de solicitar gateway internacional

1988 - Acordo SEI/Embratel/LARC/LNCC para permitir conexões internacionais ponto-a-ponto a partir de qualquer instituição de ensino ou pesquisa

         - Implantação de conexões Bitnet

         - Reunião no Distrito Federal com participação diversas instituições de ensino e pesquisa, com desenvolvimento da minuta de decreto do então Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) para criação da RNP

1989 - Lançamento oficial da RNP durante o evento SUCESU, com destaque para a implantação de correio X.400 na RNP

1990 - Primeiro Workshop da RNP (WRNP)