Conteúdos digitais e mobilidade: desafios para bibliotecas, arquivos e acervos digitais

Os dispositivos móveis estão se tornando, cada vez mais, uma janela de exibição para diversos conteúdos digitais – filmes, músicas, fotografias, áudios, textos e outros. Nesse contexto, muitas instituições de cultura e memória vêm desenvolvendo iniciativas para explorar a janela. Para mostrar os desafios das bibliotecas, arquivos e acervos digitais com a mobilidade, foi feita uma sessão especial para tratar o assunto.

O coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles (IMS), Sergio Burgi, iniciou a discussão ressaltando o grande passo que a cultura e o conhecimento deram com o começo da disponibilização intensiva de conteúdos museológicos no ambiente digital. “Contudo, precisamos nos atentar que o processo de digitalização e difusão precisa estar diretamente ligado na preservação do arquivo original, pois é ele que vai gerar a estrutura para construir o banco de dados eletrônicos”, destacou.

Burgi apresentou a plataforma Brasiliana Fotográfica, lançada em abril de 2015, para disponibilizar imagens do século XIX do acervo da Biblioteca Nacional e do IMS. “É possível ver as imagens em alta qualidade. Contudo, em relação à mobilidade, a área de fotografia conta com a limitação de tamanho dos aparelhos de dispositivos móveis”, elucidou.

Nessa linha, foi apresentada a dificuldade de preservação do conteúdo audiovisual físico no Brasil. Para o diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA), Fabricio Felice, isso ocorre por uma falta de priorização do setor nos mais de cem anos de história no país e do clima local. “Temos um cenário limitado, devido ao acervo comprometido do ponto de vista físico”, explicou. Ele aproveitou a oportunidade para expor ações para a preservação digital de acervos audiovisuais no Brasil, como a Programadora Brasil e o Projeto Alex Viany.

A coordenadora do Programa de Preservação de Acervos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fernanda Menezes, lembrou que a instituição tem uma história de dez anos no incentivo de restauração, catalogação, higienização e acondicionamento de acervos memoriais públicos e privados. Porém, o BNDES demorou a incentivar projetos de digitalização por conta de insegurança em relação à tecnologia disponível e sua sustentabilidade no longo prazo. “Em 2010, começamos a apoiar, mas sabendo que é fundamental ter uma política pública para a digitalização de acervos memoriais”, disse. Nesse caminho, Fernanda apresentou a Rede Memorial, articulação nacional das instituições comprometidas com políticas de digitalização dos acervos memoriais do Brasil.

A preservação de conteúdos aplicados à gestão de recursos naturais e territoriais também teve espaço na sessão. O consultor de TI no Instituto Terra Krya, Alessandro Lamdim, expôs a plataforma Pesca +, que oferece a colônias de pesca e demais instituições de apoio ao ordenamento pesqueiro ferramentas para gestão dos cadastros dos pescadores filiados e monitoramento da atividade pesqueira de uma região: controle do estoque pesqueiro, monitoramento da biodiversidade, relato de conflitos, entre outros. A plataforma digital funciona integrada a executáveis e aplicativos desenhados para regiões com acesso restrito a internet. “O objetivo final é disponibilizar os dados em uma interface web, com informações das espécies de peixes, onde foram encontradas, dados de legislação, registros de imagens”, finalizou.