| Por uma Internet democráticaGovernança da Internet no Brasil Rets 14.03.2003 Criar um Conselho de Governança da Internet formado paritariamente por membros indicados pelo governo, pela iniciativa privada e pelo terceiro setor é a proposta das entidades que participaram do Seminário sobre Governança da Internet no Brasil e a Sociedade Civil, realizado nos dias 25 e 26 de fevereiro e promovido pela Rits, o Instituto Florestan Fernandes, a Abong e a Andi, com o apoio do CGI-BR (Comitê Gestor da Internet Brasileira) e RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa). Ao conselho caberia promover a inclusão digital, defender os direitos humanos, a liberdade de expressão e uma Internet democrática, com estímulo permanente ao debate público de temas relevantes. É o que as instituições signatárias demandam no documento final do encontro. PreâmbuloA "governança" da Internet inclui a gestão segura, confiável e eficaz dos sistemas que permitem a localização de computadores para o acesso a seus serviços de rede, bem como dos respectivos protocolos de intercâmbio de dados. A atual estrutura mundial de gestão é piramidal, tendo como topo da pirâmide a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN), um organismo civil sem fins de lucro registrado nos EUA. A ICANN administra os servidores-raiz, a delegação de números IP e nomes de domínio (que permitem identificar e localizar os computadores na Internet), bem como a padronização dos protocolos que permitem o acesso aos serviços Internet. A ICANN opera por delegação do governo dos EUA em tese, o Departamento de Comércio americano pode mudar qualquer das regras de operação da rede a partir dos servidores-raiz administrados pela ICANN. Entre outras razões, isso já justifica o movimento internacional crescente que pretende substituir a ICANN por um verdadeiro organismo internacional com participação paritária de cada país. Em cada região há "filiais" da ICANN administrando nomes de domínio e números IP. Em cada país há uma entidade gestora com atribuições similares às da ICANN, mas restritas ao domínio-raiz do país, delegado pela ICANN à entidade gestora. Em cada país a entidade gestora é organizada (quando é) de modo distinto muitas são departamentos de governo, outras são entidades civis sem fins de lucro, algumas são acadêmicas e outras ainda são empresas privadas. A Internet no Brasil é gerida desde 1995 por um comitê de voluntários renovado a cada dois anos e designado pelo governo federal o Comitê Gestor da Internet Brasil (CG). Sob a responsabilidade ou supervisão do CG estão:
Essa estrutura, criada no início da comercialização dos serviços Internet no Brasil, teve um papel fundamental no início desse processo, garantindo várias conquistas que não foram possíveis em muitos outros países, entre as quais:
Ao longo dos últimos anos, porém, constatou-se que essa estrutura de gestão não institucionalizada não proporcionou a devida transparência e controle social necessários a um serviço de interesse público e de tamanha importância. Entre outros fatos preocupantes, verificou-se em 2002 que os recursos arrecadados ficaram sob controle da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que se apropriou dos mesmos unilateralmente para seus próprios projetos. O montante até o final de 2002 é da ordem de R$ 60 milhões e a arrecadação anual é estimada em R$ 15 milhões. Há dúvidas sérias também sobre a estratégia de otimização de tráfego, envolvendo empresa dos EUA sem uma análise da real necessidade dessa transformação de um serviço público em uma operação comercial privada. Isto pode ter implicações também sobre um possível controle do conteúdo trafegado pela Internet no Brasil a partir de leis dos EUA. Por fim, apesar de ter recursos para tanto (estima-se que o custo total da operação hoje é metade dos recursos arrecadados com o serviço de nomes de domínio), o CG não promoveu atividades fundamentais para o desenvolvimento da rede no país, tais como, entre outros:
É consenso hoje que essa estrutura precisa ser mudada para garantir transparência e controle social sobre a operação segura e eficaz da Internet no Brasil, sem perder as conquistas já mencionadas. Com o novo governo, abre-se a oportunidade de uma reorganização em consulta com o governo e os vários setores da sociedade na elaboração de uma nova proposta para essa gestão. Esse processo precisa ser agilizado o atual CG termina seu mandato em março de 2003 e é preciso ter consenso sobre os caminhos a seguir a partir de então. Com o objetivo de contribuir para este novo modelo de gestão, organizações da sociedade civil estiveram reunidas no Rio de Janeiro, em 25 e 26 de fevereiro de 2003, para discutir uma proposta de governança da Internet no Brasil. O resultado destes dois dias de trabalho está consolidado neste documento, como segue: Proposta do grupo de entidades do terceiro setor, abaixo assinadas, interessadas na estrutura de governança da Internet e participação do terceiro setor nestaConsiderando que:
Os signatários consideram que devem ser princípios norteadores da ação da estrutura de governança da Internet no Brasil:
Desta forma os signatários propõem um Conselho de Governança da Internet:
Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 2003 Entidades civis signatárias
fonte: http://rets.rits.org.br/ | Notícias relacionadas: Seminário discute Governança da Internet no Brasil Representantes do Terceiro Setor produzem documento propondo uma nova estrutura para o Comitê Gestor [RNP, 28.02.2003] Governança da infra-estrutura da Internet no Brasil em debate [Rets, 21.02.2003] |