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Uso de redes na área de saúde é demonstrado no 9º WRNP

Médicos homenageiam Rede Universitária de Telemedicina

Na última sessão do 9º Workshop RNP (WRNP), realizado nos dias 26 e 27 de maio, no Rio de Janeiro, profissionais da área de saúde falaram sobre o uso das redes de computação no atendimento à população e troca de informações entre médicos. Eles parabenizaram a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e o Ministério da Ciência e Tecnologia por terem desenvolvido a iniciativa Rede Universitária de Telemedicina (Rute).

A primeira apresentação coube à Dra. Maria Beatriz Moreira Alkmim, coordenadora do Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG). Ela falou sobre a Rede Minas Telecardio, uma parceria entre o HC e a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais. O projeto nasceu em 2005, com a criação do centro de telessaúde e o convênio com a secretaria estadual para a implantação de um sistema de telessaúde, com foco em telecardiologia, em 82 municípios de Minas. Com o sucesso da iniciativa, a secretaria de saúde do estado transformou o projeto em serviço. Hoje, o Minas Telecardio alcança 156 municípios mineiros, 17 Centros de Saúde em Belo Horizonte e, até mesmo, 13 municípios no Ceará. Segundo dados de abril deste ano, mais de dois milhões de habitantes são atualmente cobertos pelo sistema.

Beatriz explicou que existe a preocupação em se priorizar a implantação do serviço nos municípios mais carentes e mais distantes de Belo Horizonte. Uma prova disto é que 100% dos municípios do Vale do Jequitinhonha, região de menor índice de desenvolvimento humano (IDH) do estado, participam da rede.

Apesar de manter “telecardio” no nome, o serviço vai além da cardiologia, prestando auxílio também à atenção básica, à enfermagem, à odontologia e à nutrição. Há um plantão médico de telecardiologia, que dá suporte, inclusive, a atendimentos de urgência. Também são realizadas atividades de teleducação e telegestão na área de saúde.

O sistema usa uma tecnologia simples e de baixo custo, visando a tornar o serviço viável para municípios com poucos recursos. A estrutura tecnológica nas pontas é bastante singela: um microcomputador com multimídia e webcam, uma câmera digital, uma impressora e um eletrocardiógrafo digital. Os programas de computador foram desenvolvidos no próprio Centro de Telessaúde do HC/UFMG e a banda de rede necessária para o funcionamento do serviço não ultrapassa os 128 Kbps. “Nós precisamos compartilhar mais essas dezenas e centenas de gigabits”, disse Beatriz, espantada com a alta capacidade das redes avançadas.

A apresentação do Minas Telecardio terminou com uma demonstração de videoconferência entre o Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte, e um posto de saúde no município de Pequi, na região central de Minas Gerais.

Rede Catarinense de Telemedicina existe desde 2005

Cleidson Cavalcante, gerente de projetos do Cyclops, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), fez a apresentação seguinte. O Cyclops foi criado em 1992, em colaboração com a Universidade de Kaiserslautern, na Alemanha, para desenvolver projetos de TI no campo do processamento e análise de imagens médicas. Acabou se estendendo para outras áreas da informática médica.

Em 2005, com apoio da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, o Cyclops coordenou a implantação da Rede Catarinense de Telemedicina, que conecta 76 municípios e realiza uma media de sete mil exames mensais. A UFSC foi a primeira instituição a ter seu hospital universitário conectado à Rede Universitária de Telemedicina,em novembro de 2007. “A principal contribuição que a Rute nos deu nos últimos meses foi a possibilidade de conectar, em redes colaborativas, núcleos de saúde em todo o Brasil”, disse Cleidson.

Durante sua apresentação, o palestrante mostrou ainda algumas ferramentas desenvolvidas pelo Cyclops, como os programas de reconstrução anatômica 3D e de tractografia interativa. O primeiro serve para simulação de procedimentos operatórios; o segundo desenha o traçado exato e o estado funcional das fibras nervosas do cérebro (tratos neurais), auxiliando o diagnóstico de patologias neurológicas e o planejamento terapêutico, entre outras funcionalidades.

Assimetrias regionais podem dificultar implantação de uma política nacional de telessaúde

Finalmente, a Dra. Alexandra Monteiro, do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Hupe/Uerj), ressaltou que a demanda dos hospitais universitários por capacidade de rede aumentou a partir da Rute. “A gente precisa de mais velocidade”, clamou, ao lembrar que este é um artigo fundamental para o sucesso das transmissões em tempo real.

Alexandra afirmou que a assimetria da capacidade de conexão entre os municípios vai gerar dificuldades para a implantação de uma política uniforme de telessaúde no país. Ela se referia ao desejo cada vez maior da comunidade e do Ministério da Saúde de traçar paradigmas comuns para a execução de iniciativas de telessaúde que sejam eficazes no sentido de reduzir as carências nacionais. “As imagens tornaram-se digitais, mas nós ainda temos dificuldades de armazenar, processar e transmitir”, alertou. A palestrante falou ainda sobre as discussões periódicas de telerradiologia que a Uerj realiza à distância com o Instituto Materno Infantil de Pernambuco (Imip) e universidades federais de Minas Gerais (UFMG), Amazonas (Ufam), Rio de Janeiro (UFF), Maranhão (UFMA), Bahia (UFBA) e Santa Catarina (UFSC), usando a infra-estrutura da Rute.

O Workshop RNP é um evento anual organizado desde 1999 para discutir as redes de alto desempenho e as aplicações avançadas desenvolvidas para elas. O mote deste ano foi “novos rumos: as redes avançadas brasileiras nos próximos cinco anos”. O atendimento a comunidades específicas, como o grupo de saúde, é uma das preocupações prioritárias da RNP para o próximo qüinqüênio. A cobertura completa do workshop está sendo publicada em http://www.rnp.br/wrnp/2008/noticias.html.

[RNP, 02.06.2008]