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20 anos de RNP

Nascimento da Internet acadêmica brasileira é comemorado em workshop


Na década de 1980, o uso de redes de computadores para a colaboração científica se difundia nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, a idéia motivava pesquisadores que voltavam do exterior. Em outubro de 1987, uma reunião na Escola Politécnica da USP mudaria os rumos da comunicação acadêmica no país. Estavam presentes representantes da academia, do governo e da Embratel (à época, principal empresa do sistema público Telebrás).

Para comemorar o aniversário desta reunião seminal, foi organizado o painel 20 Anos de RNP, dentro da programação do 8º Workshop RNP (WRNP). Os palestrantes foram Paulo Aguiar (Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ), José Augusto Suruagy Monteiro (Universidade Salvador – Unifacs), Antonio Mauro Barbosa de Oliveira (Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará – Cefet-CE), Claudia Bauzer Medeiros (Sociedade Brasileira de Computação – SBC – e Universidade Estadual de Campinas – Unicamp) e Liane Margarida Rockenbach Tarouco (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS). Marcelo Sávio, arquiteto de TI da IBM e autor da dissertação A trajetória da Internet no Brasil, mediou o painel.

José Augusto Suruagy Monteiro

O 8º WRNP realizou-se em Belém (PA), nos dias 28 e 29 de maio, com o patrocínio das empresas Embratel e Padtec, na categoria Ouro; Cisco, Extreme Networks e Plant Engenharia, na categoria Prata; e Global Crossing, Inter Quattri, Metrocable, Oi e Omega, na categoria Bronze. Como ocorre todos os anos, o WRNP inseriu-se na programação do Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores (SBRC).

Sonhadores e abnegados

Construir uma rede de computação nacional, que integrasse os institutos de pesquisa e ensino superior do Brasil, não era tarefa fácil. O mercado de telecomunicações era controlado por um monopólio estatal; a infra-estrutura era deficiente, principalmente em estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste; os padrões de comunicação não estavam estabelecidos; e havia uma série de empecilhos legais. Mas os pesquisadores que viajavam para o exterior e tinham contato com as redes de computação para uso acadêmico começavam a voltar com este sonho: trazer para o Brasil a mesma realidade, facilitando a pesquisa colaborativa.

De 1988 a 1989, três instituições brasileiras (o LNCC e a Fapesp em 1988, e a UFRJ em 1989) conectaram-se diretamente a redes nos Estados Unidos, como a Bitnet. Durante os anos seguintes, estas conexões internacionais foram também compartilhadas por outras instituições de educação e pesquisa em todo o Brasil. Elas estabeleceram enlaces, a suas próprias custas, principalmente ao LNCC ou à Fapesp. Apenas em 1990, o crescimento desta malha acabou criando a primeira rede acadêmica nacional, de tecnologia Bitnet, oferecendo apenas o serviço de correio eletrônico. No entanto, não havia integração planejada entre as instituições no Brasil e nem se levava em consideração outros serviços de rede. Só em 1989 o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), através do CNPq, criou o projeto Rede Nacional de Pesquisa (RNP), que inaugurou seu primeiro backbone ("espinha dorsal" ou "troncal" da rede) em 1992, interconectando 11 capitais brasileiras, usando a tecnologia Internet (TCP/IP), à incrível velocidade de 9,6 Kbps.

Paulo Aguiar

A evolução da rede e da instituição que a gerenciava foi lenta. Dez anos depois de sua criação, o projeto RNP virava uma associação privada sem fins lucrativos, com o nome de Rede Nacional de Ensino e Pesquisa. Para continuar mantendo a rede financeiramente, o MCT se uniu ao Ministério da Educação. Ambos têm assento no Conselho de Administração da RNP e vêm controlando a execução do programa interministerial de manutenção do backbone através de metas definidas em um contrato de gestão. Foi também no final da década de 1990 que este backbone finalmente chegou a todas as 27 unidades da federação. A capacidade dos links interestaduais variava agora de 1 a 155 Mbps.

Não foi à toa que a presidenta da Sociedade Brasileira de Computação, Claudia Medeiros, chamou os que passaram pela RNP e os que ainda trabalham nela de "abnegados". "Sem a RNP a gente não existiria do ponto de vista da comunicação acadêmica", disse Medeiros.

1990: a década das redes

Marcelo Sávio, da IBM, abriu o painel 20 Anos de RNP com um filme sobre acontecimentos das últimas décadas, ressaltando os anos 1990 como a década das redes. Em 1991, o inglês Tim Berners-Lee lançou a World Wide Web, que ajudaria a popularizar a Internet em pouco tempo. Em 1995, a RNP abria seu backbone para provedores de acesso comercial, dando o empurrão que faltava para a consolidação da Internet no Brasil. Dois anos depois, a RNP e o CNPq lançavam o edital Projetos de Redes Metropolitanas de Alta Velocidade (Remavs), pontapé inicial para a construção de uma nova infra-estrutura de rede de alto desempenho para uso exclusivamente acadêmico. Fechando a década, em 2000 era lançada a RNP2, com conexões ATM (modo de transmissão assíncrona, na sigla em inglês) de até 155 Mbps.

Antonio Mauro Barbosa de Oliveira

De 2000 em diante, a rede nacional acadêmica evoluiu a passos largos. Quatro anos depois de lançada a RNP2, o backbone começava a operar com enlaces SDH (hierarquia digital síncrona, na sigla em inglês) de até 622 Mbps. A realidade começava a mudar. Como lembrou o professor Paulo Aguiar, da UFRJ, até então, "as redes locais eram mais potentes que a rede nacional", o que dificultava a comunicação interestadual. "Agora é o contrário", afirmou, lembrando que as conexões interestaduais no backbone da RNP chegam hoje a 10 Gbps.

Os processos de evolução da RNP como instituição e como rede levaram o professor José Augusto Suruagy, da Unifacs, a falar em fases de "renascimento" da RNP. Reconhece como tais os anos de criação da Associação RNP (1999), de inauguração da rede RNP2 (2000), de qualificação da associação como Organização Social (2002) e de construção da rede Ipê (2005).

Suruagy afirmou que as redes de suporte a ensino e pesquisa devem estar sempre na ponta e reconheceu que a RNP tem cumprido este papel. Na opinião do professor da Unifacs e coordenador do GT Medições da RNP, é preciso estudar novas arquiteturas, redes sem-fio e redes sensores, e é preciso interiorizar as redes metropolitanas de educação e pesquisa (Redecomep).

Lembranças do passado e um olhar para o futuro

Claudia Bauzer Medeiros e Liane Margarida Rockenbach Tarouco

Liane Tarouco, professora da UFRGS e autora do primeiro livro brasileiro sobre redes de computadores, mostrou mensagens históricas dos pioneiros das redes de computação no Brasil. Mensagens anteriores à criação do primeiro backbone da RNP. Trocavam-se opiniões, expectativas e sonhos. Discutia-se qual protocolo seria usado na rede brasileira (o TCP/IP era considerado um padrão “de facto” e não “de jure”, e havia muitos defensores do modelo OSI, que era um padrão internacional) e como contornar as barreiras legais ou como alterar a legislação em vista da nova realidade no mundo das telecomunicações.

Mas o painel 20 Anos de RNP não se restringiu a olhar o passado. Antonio Mauro de Oliveira, do Cefet-CE, mirou o futuro e instigou RNP e SBC a pensarem no uso social da rede. Claudia Medeiros ressaltou que, se cada vez mais a computação precisa cooperar com as outras áreas, cada vez mais as outras áreas precisam da computação para cooperar.

Em sua nova fase, iniciada com a construção da rede óptica Ipê, em 2005, a RNP tem ampliado o atendimento às comunidades científicas e de ensino. Nesta estratégia incluem-se a criação de novos serviços de redes (como VoIP e conferência Web), a capilarização da infra-estrutura de alta velocidade (com a Redecomep), a promoção da e-ciência (com o envolvimento em projetos de grades computacionais, por exemplo) e a coordenação de projetos especiais (como a Rede Universitária de Telemedicina e a Rede de Intercâmbio de TVs Universitárias), entre outras ações. Deve ser por isso que Claudia Medeiros afirmou que "o futuro certamente vai depender da RNP, pelo menos no Brasil."

Marcelo Sávio

O 8º Workshop RNP reuniu cerca de 200 pessoas. O principal tema deste ano foram as redes ópticas de última milha, que teve como destaque a inauguração da rede metropolitana de Belém, a Metrobel, a primeira da sua categoria, no Brasil, dedicada a pesquisa e educação. A programação incluiu ainda painéis sobre infra-estrutura na Amazônia, e-ciência e políticas públicas para as tecnologias da informação e comunicação; demonstrações de grupos de trabalho em pesquisa e desenvolvimento; e panoramas da evolução da infra-estrutura de rede acadêmica nacional e das redes metropolitanas de educação e pesquisa (Redecomep). O evento foi transmitido ao vivo pela Internet. Os vídeos das palestras estão disponíveis no site do WRNP.

[RNP, 11.07.2007]

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Veja também:

8º Workshop RNP

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