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Cirurgia através do Computador


Gazeta Mercantil

Christiane Hato

21.12.1999


Um paciente submete-se a um eletrocardiograma em um hospital e recebe o diagnóstico feito pelo especialista de outro centro médico. Outro é operado pela equipe residente enquanto a cirurgia é acompanhada, em tempo real, por profissionais instalados em outra instituição. Tudo por meio da Internet, com transmissão de dados de alta resolução, sem interferências nem congestionamentos de linha telefônica. Cenas da Medicina do futuro? "Não. É a Medicina do presente", garante o chefe do Departamento de Informática em Saúde da EPM Unifesp (Escola Paulista de Medici-na/ Universidade Federal de São Paulo), Prof. Daniel Sigulem.

É o que proporciona a telemedicina , uma das principais áreas a se beneficiar com o avanço da Internet2. A criação da Rede Metropolitana de Alta Velocidade de São Paulo (RMAV-SP) consolida a infra-estrutura de comunicação entre o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor) e o Hospital São Paulo, da Unifesp, os primeiros centros hospitalares interconectados pela rede.

Com 800 computadores em rede, sendo 15 deles estações de trabalho ligadas a um backbone de alta velocidade, o Instituto do Coração tem seus principais equipamentos ligados à rede local. Isso permite que um médico forneça diagnósticos ou consulte exames sem a necessidade de analisar imagens em filme. Basta acessar o próprio computador. A equipe do Incor está trabalhando para que todas as informações de pacientes passem a ser digitais. "Estamos investindo muito no conceito do prontuário eletrônico para que, a partir de um terminal, o médico possa obter informações sobre laudos, exames de laboratório, traçados de eletrocardiograma e imagens, sejam elas estáticas ou dinâmicas", antecipa o diretor técnico da Divisão de Informática. do Incor, Marco Antônio Gutierrez. Será o fim das pastas recheadas de papéis e ano-tações. "Com a rede metropolita-na, pode-se estender esse conceito, trocando prontuários digitais entre instituições de saúde".

Graças à interconexão proporcionada pela RMAV, o Incor e o Hospital São Paulo poderão, dentro de pouco tempo, compartilhar informações médicas sobre seus pacientes. No caso de alguém ter feito exames no Hospital São Paulo e depois ter procurado médicos do Incor, por exemplo. A equipe do Instituto do Coração poderá acessar os dados dessa pessoa na Unifesp, verificando, inclusive, imagens ou traçados dos exames que ele tenha feito no primeiro hospital. "Com essas informações, saberemos como proceder em um diagnóstico ou tratamento com mais rapidez", explica, Gutierrez.

Há três anos, o Incor iniciou o serviço de envio de eletrocardiograma via fax. Fez tanto sucesso que atende, por ano, a milhares de diagnósticos enviados por hospitais espalhados em mais de 40 cidades do País. Reproduzidos no monitor, esses traçados também podem ser transferidos por e-mail, do computador do usuá-rio para a central do Incor. Se essas experiências facilitam a rotina dos usuários do serviço, transmitindo informações em um prazo relativamente curto, o efeito da Internet2 será muito maior.

De acordo com o doutor Sigulem, da Unifesp, além de descentralizar serviços, uma das principais vantagens da telemedicina é possibilitar teleconferências e discussões de casos clínicos. A Unifesp promove discussões desse tipo pela rede, com recursos de texto e imagens. Por meio do correio eletrônico, os médicos podem enviar suas opiniões, que são inseridas na página, junto ao diagnóstico. "Com a Internet2, todos podem participar em tempo real. Podemos convocar uma reunião de Cardiologia, junto com o Incor, e discutir casos entre as duas instituições", sintetiza o médico.

Para ele, outro ponto importante é a segunda opinião: "Daqui a alguns anos uma equipe estará fazendo uma cirurgia. no Incor enquanto o especialista daqui estará indicando: corta mais para a direita. É o primeiro passo para cirurgias à distância". Gutierrez concorda, afirmando que a idéia do Incor é interligar os postos de atendimento de emergência de ambos os hospitais. Caso preci-sem de uma segunda opinião, os médicos do Incor poderão acionar a equipe do Hospital São Paulo, e vice-versa.

Inicialmente, dos 1.500 computadores da Unifesp, apenas seis estarão conectados à rede metropolitana. Com experiência em educação à distância, atividade que desenvolve desde 1995, a Unifesp pretende utilizar a Internet 2 para aprimorar os cursos oferecidos. Segundo Sigulem, o processo de educação a distancia não é apenas uma transferência de material didático tradicional para a Internet. Para ele, o processo parte de três princípios: o professor abandona o papel de transmissor da informação para repre-sentar o de guia no processo educacional, já que grande parte das informações está na Internet. En-quanto isso, o aluno deixa de ser receptor passivo de informações para buscá-las, ativamente. 0 último é que a interatividade entre aluno e professor torna-se fundamental, seja por meio de chat, discussões ou teleconferência. E requer o máximo de mídias possível, tanto em forma de texto como de imagens em movimento. Temos um curso de simulação de desastres, com vários recursos de vídeo. Para o arquivo não ficar pesado, desenvolvemos um CD-ROM com os vídeos. 0 aluno fazia o curso pela Internet e acessava as imagens pelo CD. Agora ele pode acessar tudo pela Internet2", comemora.

Ainda em fase de estudo, o Incor também pretende investir na educação continuada em Medicina. Mas seus objetivos vão além, "Ternos interesse em levar a telemedicina a regiões distantes, como Manaus, que tem recursos limitados e precisa de apoio" conclui Gutierrez.

fonte: http://www.gazetamercantil.com.br/

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